Diálogo Vicentino
SAM'PAIO: Que quereis?
SANT'ANA: Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca de São Bento é esta em que navegais.
SAM'PAIO: Esta é; que demandais?
SANT'ANA: Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solário, é bem que me recolhais.
SAM'PAIO: Não se embarca tirania neste batel divinal.
SANT'ANA: Não sei porque haveis por mal que entre eu e minhas senhoritas...
SAM'PAIO: Pera vossa fantesia mui direita é esta barca.
SANT'ANA: Pera senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia? Venha a prancha e atavio! Levai-me da praça alfacinha!
SAM'PAIO: Não vindes vós de maneira pera entrar neste navio. Essoutro está mais vazio. Trazeis já a cadeira? Queda-te e o rabo caberá e todo vosso rapazio. Ficareis lá mais espaçoso, vós e vossa confraria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso. E porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-eis tanto menos quanto mais fostes fumoso.
S. MARCELLO: À barca, à barca, senhores! Oh! que maré tão de prata! Um ventozinho que mata e valentes remadores!