14.7.04
Eugène Delacroix, La Liberté guidant le peuple
14 DE JULHO
Em 14 de Julho de 1789, deu-se a tomada da Bastilha, que determinou o início da Revolução Francesa. Caía o feudalismo. O espírito original daquela Revolução estava certo, só que, foi, posteriormente, pervertido por acção da esquerda (os jacobinos).
Na Assembleia Nacional Francesa, os liberais moderados (girondinos) sentavam-se à direita, enquanto os radicais (jacobinos) se sentavam à esquerda. Foi a partir daí que se passou a falar de esquerda e direita, na política.
A direita defendia a tolerância, a liberdade e a coexistência pacífica entre adversários. A esquerda, no período do terror, na primeira metade da década de 90 do séc XVIII, prendeu e matou milhares e milhares de franceses, não só absolutistas, mas também girondinos, sem sequer serem submetidos a julgamento. Curiosamente, os seus dirigentes mais destacados, como Robespierre, acabaram na guilhotina, onde acabou também o seu criador, Guilhotan.
A direita dividia-se em democrática (girondina) e reaccionária (absolutista). A esquerda, era toda ela totalitária, dividindo-se, mais tarde, em democrática e defensora do pluralismo (socialista) e anti-democrática, apostando na tomada e conservação do poder pela violência (comunista). No entanto, os socialistas actuais ainda passam sobre o terror da Revolução Francesa como gato sobre brasas...
No séc. XX, movimentos como o fascismo, regimes nacionalistas autoritários, como o de Salazar, ou ditaduras militares, inserem-se na direita anti-democrática. Os girondinos influenciaram os actuais partidos conservadores, liberais ou democratas-cristãos.
A DEMOCRACIA MODERNA NÃO NASCE COM A REVOLUÇÃO FRANCESA
É falso que o conceito moderno de democracia tenha nascido com a Revolução Francesa, pois como se viu aquela Revolução, após o período inicial, descambou para o esmagar das liberdades fundamentais, em nome da "vontade geral".
Antes, surgiram Revoluções democráticas em Inglaterra (Glorious Revolucion), em 1688, que pôs fim ao absolutismo e retomou uma tradição demo-liberal inglesa, que vinha desde a Magna Carta, outorgada por João Sem Terra, em 1215 e a que conduziu à independência dos EUA, em 1776. Estas revoluções recusavam a vontade geral, eram tolerantes, defendiam o poder como emanação da vontade popular e o primado da lei, bem como a limitação da acção de poderes que se controlavam uns aos outros.
A estas diferenças não foram alheias influências iluministas e maçónicas. Em França, os iluministas eram anti-clericais, em nome da deusa razão e da negação de Deus, e a maçonaria primava pelo ateismo e a perseguição às religiões. Na Inglaterra e na América, os iluministas e os maçons eram maioritariamente cristãos, uns protestantes (a maioria) e outros católicos. Os maçons eram crentes em Deus. Aliás, quem fosse ateu não entraria, nem entra hoje para a maçonaria anglo-saxónica. Recordamos que a Constituição Maçónica, escrita em 1723 pelo pastor protestante Andersen, diz "nenhum verdadeiro maçon pode ser um estúpido ateu ou um libertino irreligioso".
DIREITA E ESQUERDA HOJE
As diferenças entre direita e esquerda são menores: a direita que tem preocupações sociais adopta nesse plano políticas que começaram por ser de esquerda. A esquerda mais moderada adopta, na economia, o capitalismo, divergindo com a direita em mais ou menos intervenção limitada do Estado e em despesas públicas sociais elevadas (a esquerda) ou um Estado Solidário com os mais desfavorecidos, que faça apenas o que não possa ser feito pela sociedade civil e o voluntariado social (a direita), de forma a baixar os impostos, com vista ao crescimento económico, sem o qual não é possível acabar com a pobreza.
Em Portugal, o PSD, porque baseado em conceitos tradicionalmente de direita, mas também de esquerda, embora aceites pela direita com preocupações sociais, sempre teve um carácter de partido de centro e reformista, tendo no nosso País um papel parecido ao do PSOE, em Espanha.
Com a actual viragem à direita, está em vias de perder esse papel, o qual poderá passar para o PS se encontrar um novo líder com formação política e carisma, na senda de um Blair, que como facilmente se constata, de socialista e de esquerda pouco mais tem que o autor destas linhas, liberal.
Por Manuel Silva