12.10.04

HÁ 32 ANOS, A PIDE ASSASSINAVA RIBEIRO SANTOS...

Passam hoje 32 anos sobre o assassinato do estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, José António Leitão Ribeiro Santos, que contava 26 anos de idade e militava no MRPP, bem como na sua organização estudantil, a Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML).

Ribeiro Santos foi morto, a tiro, por um esbirro da PIDE, durante um "meeting" contra a guerra colonial, no ISE, actual ISEG.

Estava um fulano a tirar apontamentos dos cartazes. Suspeitando-se de que era um pide, apanhou o justo correctivo dos estudantes. A Direcção da AE do ISE, conotada com o PCP, foi chamar a PIDE para confirmar se o tal indivíduo pertencia ou não aos seus quadros. Com a chegada da PIDE, houve confrontos, de que resultou a morte de Ribeiro Santos e o ferimento de José Lamego (com um tiro numa perna), então também ligado ao MRPP e à FEML e hoje militante do PS, o qual ficou internado no Hospital de Santa Maria, sob prisão, rumando, após alta médica, para o forte de Caxias.

Como se poderá constatar, a Direcção da AE do ISE, liderada por um tal Pedro Aranda, não está isenta de culpas na morte daquele estudante.

O funeral de Ribeiro Santos foi uma jornada histórica contra a ditadura, tendo a PIDE impedido os estudantes de conduzirem aos ombros o seu camarada ao cemitério da Ajuda.

Houve cenas de pancadaria no trajecto do funeral, desde a casa do jovem vítima da polícia política, em Santos, até ao cemitério e dentro deste, registando-se inúmeras prisões.

Por todo o País, estudantes levantaram-se em luta, denunciando aquele crime do regime e das suas forças repressivas. O tiro que tirou a vida a Ribeiro Santos foi mais um tiro no pé do próprio regime.

O pide que o assassinou fugiu de Alcoentre em 1975, tendo desaparecido, nunca sendo julgado pelo crime cobarde que cometeu.


... E HÁ 29 ANOS, A UDP ASSASSINAVA ALEXANDRINO DE SOUSA

No dia 9 de Outubro de 1975, um bando de 60 militantes da UDP atacou, no Terreiro do Paço, uma brigada de 6 militantes do MRPP que colava cartazes relativos ao comício comemorativo do 3º aniversário da morte de Ribeiro Santos, 3 dias depois.

Dada a clara superioridade numérica, os UDPs lançaram ao Tejo os militantes do MRPP. Entre estes encontrava-se Alexandrino de Sousa, de 23 anos, estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, a cuja Direcção da AE, liderada por Durão Barroso, pertencia e membro do Comité Central da FEML, bem como director do seu jornal, "Guarda Vermelha". Antes de ser lançado às águas, os membros da organização hoje integrante do BE bateram com a cabeça e o rosto de Alexandrino no asfalto. Como não sabia nadar, acabou por falecer, tendo o seu funeral sido também uma jornada em que participaram muitos milhares de pessoas.

No dia do assassinato do Alexandrino, em comício da UDP, o seu "pai", Francisco Martins Rodrigues, vangloriou-se do crime. Com a mesma valentia que o fez ajoelhar aos pés da PIDE, a quem entregou inúmeros camaradas, levando ao desbaratamento da organização que então (1965) liderava - o Comité-Marxista-Leninista Português (CMLP).

Quando Ribeiro Santos foi morto era eu criança e nada percebia de política. Quando o partido do major Tomé assassinou Alexandrino de Sousa, pertencia, com 16 anos, ao MRPP e à FEML. Nunca conheci o Alexandrino, mas tinha ouvido falar várias vezes dele. Foi dos dias em que mais raiva senti e mais vontade tive de continuar a nossa luta, como sendo a melhor homenagem que poderia prestar àquele camarada caído em combate.

Passados todos estes anos, mudei de ideias e de partido. Continuo, no entanto, a ter um grande respeito por aqueles dois mártires da causa em que acreditavam com boas intenções. É certo que tal causa conduziu onde foi aplicada ao pior dos infernos, em nome do paraíso terreno. Não faz sentido perguntar em que quadrante político militariam hoje, se fossem vivos. Com todo o seu idealismo, se a revolução triunfasse, poderiam ser das suas vítimas.

Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa faziam parte de uma geração revoltada contra a falta de liberdade e as injustiças humanas e sociais do regime autoritário de Salazar e Caetano e que também não se identificava com a cultura da oposição tradicional ao mesmo regime, especialmente a do PCP, enfeudado ao que apelidávamos de social-imperialismo revisionista soviético. Essa revolta levou parte considerável dessas gerações (dos amigos de Alex, como se costuma dizer, relacionando-as com o filme que tem aquele nome), a quem eu também pertenço, ao marxismo mais radical.

Mais tarde, ao ver o logro em que caímos, passámos - a maioria de nós - a defender a democracia parlamentar e a militar em partidos de esquerda e direita moderadas ou centrais e reformistas. Aqueles nossos camaradas faleceram antes. Foram Homens que se bateram por uma sociedade justa, "sem muros, nem ameias", como dizia o maior porta-voz da revolta de todas as gerações anti-fascistas, Zeca Afonso.

Por isso, aqui os saúdo. Honra a Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa!

Por Manuel Silva