29.10.04

O QUE MOSTRA A SONDAGEM PUBLICADA NO OFICIOSO DO GOVERNO


Segundo a sondagem hoje publicada no DN (que se está a tornar o oficioso do governo, retomando uma tradição anterior ao 25 de Abril), se agora houvesse eleições, o resultado seria o seguinte:

PS - 49,3%
PSD - 28,4%
CDU - 8,2%
BE - 6,3%
CDS - 3,3%.

O líder mais popular é, de longe, José Sócrates. Os menos populares são Santana Lopes (penúltimo) e Paulo Portas (último), com popularidades negativas, na casa dos 30%, bem atrás de Francisco Louçã e Carlos Carvalhas.

O senador mais popular, na esquerda, é António Vitorino, seguido de Mário Soares. Na direita, o sanador mais popular é Marcelo Rebelo de Sousa, seguida de Cavaco Silva.

Esta sondagem mostra:

1º - Que os ataques do poder a Marcelo Rebelo de Sousa só o beneficiaram, prejudicando os atacantes.

2º - Que o PS pode ganhar as próximas legislativas, com larga maioria absoluta, e que mais de 60% dos sondados votam nos partidos de esquerda.

3º - Todos os partidos de oposição sobem, incluindo o PCP, apesar da crise interna que vive.

4º - O PSD e o CDS descem abruptamente. Se concorressem a eleições separados, em pouco ultrapassariam os 30%. Como se viu nas últimas eleições para o PE e nas regionais dos Açores, concorrendo coligados, o resultado seria ainda pior e mais benéfico para o PS. A chamada direita tem metade dos votos da chamada esquerda. Coisa inédita em Portugal nos últimos 30 anos!...

5º - A imagem do governo e dos líderes dos partidos que o compõem é muito má no País. As contradições entre o primeiro-ministro e os seus ministros, a falta de coordenação, as tentativas canhestras de domar a comunicação social e a perseguição aos sociais-democratas críticos estarão, por certo, na origem destes resultados.

O orçamento "cor de rosa", com os prometidos aumentos dos funcionários públicos e das pensões de reforma, acompanhados de cortes no IRS não convencem boa parte dos destinatários de tais medidas. Não são só os economistas ontem recebidos pelo Senhor Presidente da República, entre os quais estão um antigo ministro das Finanças do PSD (Miguel Beleza) e António Nogueira Leite, independente próximo do mesmo partido, que não acreditam na promessa orçamental. O povo português prova não ser parvo, até porque se lembra de como acabou o guterrismo que teve um início parecido, na matéria, com o santanismo.

Ainda há quem ache que esta coligação, com as pessoas que tem à frente, está para dar e durar? Se há, mais cedo do que pensa, o sonho tornar-se-á um pesadelo.

A alternativa a esta política também não é melhor. Sócrates é o Santana do PS, vivendo do mediatismo e primando pela ausência de qualquer projecto de desenvolvimento consistente e sustentável. O nosso futuro não é, pois, risonho. Como me disse, há dias, o meu amigo Heduino Gomes, militante do PSD, em Lisboa, e ex-chefe do gabinete de propaganda do partido quando Mota Pinto era seu líder, "batemos no fundo".

Resta a esperança de que pessoas com formação política, carisma, competência e nível cultural voltem a dirigir os partidos, pois esta gente, na situação em que deixará o País, não poderá estar muito mais anos ao seu leme.

Por Manuel Silva