18.12.04

A DIGNIDADE FEMININA, O CONSERVADORISMO SOCIAL E O RELATIVISMO


Mário Vargas Llosa

No passado dia 10 de Dezembro, o DNA, caderno ilustrado do "Diário de Notícias", publicava um artigo do escritor peruano Mário Vargas Llosa, que havia sido inserido numa edição do jornal espanhol "El País", o qual versava sobre dois livros escritos por duas autoras espanholas, retratando a vida de duas mulheres em épocas diferentes, naquele País.

Um dos livros fala de uma jovem estudante liceal, filha de pais pobres, vítima da hipocrisia moral bafienta e da repressão sexual, ligada à repressão e censura sociais e políticas, na Espanha franquista do pós-guerra civil (início dos anos 40 do século passado).

A atitude daquela jovem não é pacífica, mas de luta contra tal situação. Aquele livro é um libelo contra o reaccionarismo social de certa direita.

O outro livro fala de uma jovem desinibida na Espanha democrática, no final dos anos 80, onde as pessoas da sua idade vivem a liberdade sem censura, em consequência da instauração do regime democrático. Como é natural após a queda de ditaduras, a liberdade juvenil conduz a alguns excessos, em parte por influência do relativismo cultural que Llosa, apesar da sua condenação veemente do conservadorismo social, considera desumanizante.

Se o conservadorismo é castrador, o relativismo defendido por certa esquerda não só desumaniza como pode levar, na prática, ao repudiar a aplicação de regras e limites à liberdade individual, dentro do princípio de que a liberdade de cada um acaba onde a dos outros começa, à destruição da liberdade geral.

O multiculturalismo é uma das teorias preferidas dos relativistas de esquerda (é que também os há de direita), como é o caso, em boa parte, do "nosso" BE. Dois temas abordados na última edição do "Expresso" demonstram que deve haver limites no tocante ao multiculturalismo. Um desses temas fala de uma jovem palestiniana que os pais e irmãos queimaram viva por ter ficado grávida de um namorado, sendo solteira. Gostava de saber o que acham os esquerdistas da direcção da OLP de tais práticas. Que tenha conhecimento, nunca as condenaram.

Aquela jovem foi socorrida num hospital de onde, após lhe ser concedida alta médica, partiu para a Suíça, na companhia de uma senhora natural deste país, pertencente a uma ONG que luta pela defesa dos direitos das mulheres.

Outro tema desenvolvido no jornal dirigido por José António Saraiva fala dos confrontos existentes com islâmicos na Holanda, na sequência do assassinato de Van Gogh.

As peças jornalísticas a que nos referimos constituem libelos contra o conservadorismo retrógrado de alguma direita tradicional e o relativismo moral e filosófico de certa esquerda, ora radical, ora dita "liberal".

Os trabalhos publicados no "Expresso" provam que deve haver limites para o multiculturalismo e a tolerância face a tradições diferentes. Essas tradições só são aceitáveis quando inseridas no respeito pela liberdade e os direitos humanos.

Por Manuel Silva