4.12.04

HÁ 24 ANOS FALECIA FRANCISCO SÁ CARNEIRO



No dia 4 de Dezembro de 1980, falecia Sá Carneiro, em consequência de acidente de aviação, existindo fortes suspeitas de que tenha sido vítima de crime.

Sá Carneiro sempre se bateu pela democracia e a liberdade, antes e depois do 25 de Abril.

No tempo da ditadura, integrado no grupo liberal, que viria a liderar, na Assembleia Nacional, entre 1969 e 1973, bateu-se, na qualidade de deputado independente face ao partido único (UN e posterior ANP), pela evolução do regime para uma democracia pluralista. Numa entrevista concedida a Jaime Gama, no jornal "República", em 1972, afirmou-se como social democrata.

Porque Marcelo Caetano, ainda que não fosse tão ditador como Salazar, também não era democrata, e seguia um caminho mais de continuidade do que de evolução, contrariamente ao que dera a entender, em 1973 Sá Carneiro abandona a Assembleia Nacional e continua a bater-se, especialmente em artigos de opinião publicados no "Expresso", pela democracia.

Após o 25 de Abril ajuda a fundar e torna-se o primeiro líder do PPD, actual PSD. O seu projecto de social democracia portuguesa era diferente dos projectos dos partidos sociais-democratas da IS. O PPD não assentava numa ideologia precisa. Era a síntese de partes de ideologias, como afirma Pacheco Pereira: o humanismo cristão, apesar do carácter laico do partido, o liberalismo, na economia e na organização do Estado, e a social-democracia, no tocante a justiça social. Este partido não foi concebido como um partido de direita, mas central e reformista, englobando uma boa parte da direita democrática e liberal, o centro e o centro-esquerda.

A própria AD, que incluia o CDS, o PPM e os Reformadores (dissidentes de direita do PS) não era uma frente de direita, mas um bloco reformista que englobava toda a direita democrática, liberal e conservadora), o centro e a esquerda moderada.

Durante o ano que Sá Carneiro governou, a economia cresceu acentuadamente, o desemprego baixou significativamente e melhorou muito o poder de compra. Era ministro das Finanças Cavaco Silva.

Sá Carneiro morreu pelo País naquele que seria o seu último combate: derrotar nas eleições presidenciais que decorreriam poucos dias depois o então PR, Ramalho Eanes, e o seu projecto de poder pessoal, procurando eleger Chefe de Estado o general Soares Carneiro. Recordamos, a propósito, uma frase histórica do então primeiro-ministro: "os inimigos da democracia portuguesa são o Partido Comunista e o general Eanes".

Os seus seguidores na AD e no governo não souberam ou não quiseram completar a sua obra. Após o governo do bloco central, Cavaco Silva efectuaria muitas das reformas defendidas por Sá Carneiro, na economia e no plano social. O período do chamado cavaquismo foi uma época de ouro na História do nosso País.

Posteriormente, com Guterres, voltámos a ser um País adiado. Como não se pode enganar toda a gente toda a vida, o engenheiro fugiu às responsabilidades, deixando Portugal de tanga. É mesmo a expressão melhor definidora das consequências da sua acção (e também da falta dela).

Com o governo de Durão Barroso, foram tomadas medidas impopulares, correctoras do pântano guterrista e fizeram-se reformas importantes, no âmbito do Estado Providência - na saúde, na educação, na segurança social, etc..

Quando havia condições para o crescimento sustentável da economia, após a escolha de Durão Barroso para Presidente da CE, foi constituido um governo populista, incompetente e sem linha de rumo, chefiado por Santana Lopes, o qual provocou muitos estragos e pôs em causa boa parte da recuperação financeira operada por Manuela Ferreira Leite.

Esse governo tem a sua demissão anunciada. Se Santana for candidato a primeiro-minsitro nas próximas legislativas, provavelmente regressará o guterrismo, com Sócrates à cabeça. Por alguns bons anos, voltaremos a ser um país adiado e, certamente, a atrasar-nos cada vez mais relativamente aos nossos parceiros comunitários. Até que o PSD volte a ser o projecto de Sá Carneiro, adaptado aos novos tempos e deixe de ser aquilo em que se está a transformar com a facção que presentemente o dirige: um partido de direita, sem linha de rumo.

A terminar recordamos uma afirmação do falecido Francisco Sousa Tavares: em Portugal, no séc XX, houve 3 projectos políticos, com pés e cabeça: um de Salazar, outro de Álvaro Cunhal e outro de Sá Carneiro.

Por Manuel Silva