8.12.04

OS 80 ANOS DE MÁRIO SOARES

Mário Soares completou 80 anos. A si se deve, em grande parte, a democracia e a liberdade que hoje se respiram, pelo papel que teve na luta contra a ditadura salazarista e contra a tentativa de instauração de outra ditadura de sinal contrário, pelo PCP e seus "compagnons de route" políticos e militares, tendo sido um dos vencedores da contra-revolução democrática que pôs fim ao PREC e deu início a uma democracia pluralista e ao Estado de Direito democrático em 25 de Novembro de 1975.

Não foi um bom primeiro-ministro. Embora os seus governos tivessem reequilibrado as finanças públicas, fizeram-no com graves consequências económicas e sociais, nos períodos de 1976/78 e 1983/85, porque manteve o sistema socializante herdado do PREC e consignado na Constituição de 1976, o qual só viria a ser alterado na revisão constitucional de 1989, por acordo entre Cavaco Silva e Vítor Constâncio.

Enquanto Chefe de Estado, teve uma boa actuação no primeiro mandato. O mesmo não se pode dizer do segundo mandato, em que foi, na prática, o líder da oposição ao governo de Cavaco Silva. Como as funções do PR são parecidas às de um árbitro no desporto, não é demais afirmar ter sido um árbitro muito, muito parcial.

Mário Soares, enquanto socialista, quase sempre chegou atrasado ao encontro com a História. Foi um dos últimos socialistas europeus a dizer adeus a Karl Marx. No entanto, a partir do momento em que o fez, bateu-se durante alguns anos por posições moderadas, de centro-esquerda. Ainda no seu último mandato na Presidência da República e actualmente, encontramo-lo, de novo, na defesa de um socialismo desactualizado e rejeitado pela generalidade dos seus camaradas da I.S..

Esta é a idiossincrasia do Dr. Mário Soares. Goste-se ou não dele, a História de Portugal já lhe reservou um lugar de destaque nas suas páginas.

No plano ideológico, encontro-me entre os adversários do Dr. Mário Soares. No tocante à defesa das liberdades fundamentais, estou de acordo com ele. Congratulo-me com os seus 80 anos e que continue a intervir política e civicamente por muitos anos.

Por Manuel Silva