7.1.05

POLITICAMENTE, BATEMOS NO FUNDO



O governador do Banco de Portugal foi muito claro nas suas previsões. Durante este ano, a nossa economia crescerá apenas 1,6% (menos 0,8% do que prevê o OGE), pelo que o crescimento das receitas será também muito inferior ao constante naquele documento, dificilmente se cumprindo o PEC, no respeitante ao défice, mesmo com receitas extraordinárias.

Eis a prova de que o grupo de economistas recebidos oportunamente pelo PR diziam a verdade quando afirmavam serem inexequíveis as previsões orçamentais e não estão ao serviço de interesses particulares. Aliás, entre aqueles seis economistas, três situam-se na área ideológica dos partidos do governo: Miguel Beleza, Nogueira Leite e Diogo Leite Campos.

Cavaco Silva não autorizou a inclusão do seu retrato num cartaz do PSD.

No jantar de Natal deste partido não esteve nenhum antigo presidente seu ainda vivo, assim como não esteve nenhum anterior ministro das Finanças. Quanto a ex-ministros de outras pastas, apenas estava o actual ministro Álvaro Barreto.

A elite do partido não confia, pois, neste líder e nesta direcção sociais democratas. As listas de candidatos a deputados poucas pessoas incluem que se tenham destacado anteriormente ao santanismo no PSD ou no governo. Figuras ligadas à cultura, à ciência, à universidade e aos sectores mais dinâmicos da sociedade estão ausentes. A única figura ligada às letras que foi convidada para as listas - e não aceitou o convite - foi Margarida Rebelo Pinto, que escrevinha uns livrecos para o público nada exigente. Aquelas ausências, este convite e as santanetes fúteis da linha definem intelectualmente este PSD.

Como já era de esperar, as listas, apesar de terem alguns elementos válidos, foram feitas com base no amiguismo aparelhístico, sendo escolhidos os "fieis" carreiristas e profissionais da política, que pouco vêem além das tricas paroquiais, desconhecendo o País real.

Disse, há alguns dias, em editorial do "Público", José Manuel Fernandes que o PSD não existe. Infelizmente e para mágoa de quem sente o partido e o vê caminhar para o abismo, dá a sensação de que o velho PSD morreu. Mas a vida não acaba no dia 20 de Fevereiro. As forças inconformistas e reformistas, o PPD profundo, encontrarão uma solução válida que faça renascer o partido, com vista à edificação de um Portugal moderno e justo, mesmo que tal só seja possível dentro de alguns anos.

A alternativa a esta política também não é melhor. Até agora, não se viu uma única ideia para a resolução dos problemas concretos dos portugueses vinda de José Sócrates e de quem o rodeia.

A constituição das listas socialistas também teve alguns aspectos anedóticos, promovendo-se os aparelhistas e ficando de fora gente de valor e formação política, como Medeiros Ferreira ou Helena Roseta.

Olhando para as pessoas que rodeiam Sócrates, vemos o pessoal do guterrismo, o qual deixou o País económica e financeiramente numa lástima, tendo fugido às responsabilidades.

Que credibilidade tem esta gente?

Que credibilidade têm afirmações do líder socialista em que afirma assegurar um crescimento de 3% ao ano, sem explicar como? É que estas coisas não se conseguem por "decreto", tal como não foi porque "decretou" no último congresso do PSD o fim da austeridade que Santana Lopes o conseguiu.

Como consegue o PS cumprir o PEC sem recorrer sistematicamente (Sócrates dixit) a receitas extraordinárias e mantendo as SCUTs?

De facto, politicamente, batemos no fundo. Como diria Cavaco Silva, referindo-se à "Lei de Gresham", a má moeda continuará a afastar a boa moeda. O PSD, após as próximas eleições, tem uma boa oportunidade para inverter esta situação a nível interno, preparando as condições para, posteriormente, o fazer no País inteiro.

Por Manuel Silva