17.1.05

POLITICAMENTE, BATEMOS NO FUNDO OU JÁ ESTAMOS NO SUBSOLO?


Santana Lopes concedeu, no passado sábado, dia 15, uma longa entrevista ao "Jornal de Notícias", onde fala muito de si, em mais uma manifestação de egocentrismo, da dissolução da AR, do relacionamento com o PR, contorna muito mal, diga-se de passagem, questões como a deslocação de Morais Sarmento a S. Tomé ou a demissão de Henrique Chaves, lamenta-se de Cavaco e Marcelo não o atenderem quando foi escolhido para primeiro-ministro, mas não dá qualquer ideia sobre o que pensa fazer no futuro, mostrando mais uma vez que tudo nele é superficial e espuma mediática.

Quando a situação económica e financeira é difícil, nos atrasamos relativamente aos nossos parceiros comunitários, sujeitando-nos a ser ultrapassados pelos novos aderentes do leste da Europa, não se vislumbra no actual chefe do governo qualquer capacidade de resposta por forma a vencer aqueles desafios.

Santana Lopes não fala de qualquer reforma que pretenda fazer. Numa altura em que o País está mais do que nunca carente de prosseguir reformas iniciadas por Durão Barroso na administração pública, na educação, na justiça, ou na segurança social.
Apesar de ter sido primeiro-ministro apenas 5 meses, é visível o cansaço e intuição de derrota no discurso de Santana.


José Sócrates, como diz o nosso povo, promete sol na eira e chuva no nabal. Quando todos os economistas credenciados, incluindo da área do PS, como são os casos de Silva Lopes ou Daniel Beça, afirmam ter de se cortar despesas e aumentar impostos, ou, caso não se queiram aumentar os impostos, o corte nos gastos deverá ser drástico, como pode garantir o cumprimento do PEC, não dizendo onde vai cortar, prometendo aumento de investimento tecnológico e a manutenção as SCUT? Como pode garantir uma taxa de crescimento de 3%/ano, não baixando os impostos? Onde vai atrair investimentos, numa altura em que os "10 de leste" têm taxas fiscais muito mais baixas? Afirma criar 150 000 postos de trabalho numa legislatura. O deputado social-democrata Miguel Frasquilho provou (e o PS não desmentiu) que tal só será possível com uma taxa de crescimento de 4,2%/ano.

Tal como Santana, também Sócrates não tem qualquer projecto político assente em bases sólidas. Faz lembrar a célebre ironia do seu homónimo, pai da filosofia: "só sei que nada sei". Só que, aqui, aquela ironia não é o início da teoria do conhecimento. Antes pelo contrário.


Paulo Portas fala de estabilidade com o seu partido. Não disse, no entanto, que reformas pretende efectuar. Procura capitalizar todas as medidas populares adoptadas pelo governo de que fez parte, incluindo as efectuadas por ministros sociais democratas e que constavam, aliás, do programa eleitoral do PSD, o que tem irritado os dirigentes deste partido. Mas, por acaso, não sabiam que Portas não é de confiança? Não se recordam das facadas nas costas (termo agora muito em voga) que deu em Manuel Monteiro ou Marcelo Rebelo de Sousa?


O PCP e o BE vêm, novamente, com a tese velha, relha e falida em todo o lado, do ataque ao capitalismo. Como vimos durante o PREC, tais teses, na prática, conduzem à destruição económica e do tecido social.

São estas as alternativas no próximo dia 20 de Fevereiro. O futuro não augura nada de brilhante. Politicamente, mais que bater no fundo, creio já estarmos no subsolo. Assim sendo, é necessário um abalo telúrico, ou, como afirmava o saudoso Vítor Cunha Rego, um choque de vontades.

Quem poderá provocar tal abalo/choque, após as próximas legislativas, é o PSD, se encontrar um líder e uma direcção credíveis que façam retomar a esperança.


PS: o filósofo português José Gil foi considerado pelo "Nouvel Observateur" um dos 25 melhores pensadores do mundo. Não pertence a nenhum partido. Pessoas ligadas à cultura, à ciência, ou à universidade escasseiam nas listas de candidatos a deputados. As preferências vão mais para futeboleiros ligados a pessoas indiciadas por prática de crime de corrupção desportiva (presume-se, no entanto, a sua inocência até eventual condenação transitada em julgado) ou escritoras pimba. Significativo do ponto que chegou a degradação dos aparelhos partidários.

Por Manuel Silva