22.4.05

AS VÁRIAS FACETAS DO CÉREBRO DO 25 DE ABRIL
Por Manuel Silva

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No próximo dia 25 de Abril, comemoram-se 31 anos que no nosso País foi derrubada uma das mais velhas ditaduras da Europa, a qual durou 48 anos.

Entre os militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) que organizaram a revolução triunfante, havia quem quisesse criar uma democracia representativa e pluralista, de tipo ocidental, e quem pretendesse instaurar uma ditadura igual às então reinantes na Europa de leste. Em 25 de Novembro de 1975, os primeiros derrotaram os segundos, com o apoio dos partidos moderados e da extrema-esquerda maoista.

O cérebro operacional do 25 de Abril foi o então major Otelo Saraiva de Carvalho, pessoa multifacetada, do ponto de vista político.

Otelo foi um dos militares mais condecorados pelo regime de Salazar e Caetano, por feitos heróicos praticados na guerra colonial. Era então um dos homens de confiança de Spínola, governador da Guiné. Foi também instrutor da Legião Portuguesa.

Posteriormente, foi um dos mais destacados membros do "movimento dos capitães". Pouco após o 25 de Abril, visitou a Suécia. No regresso, disse maravilhas do sistema social daquele país.

Homem voluntarioso, precipitado, algo ingénuo e sem formação política ou ideológica, facilmente foi levado por intelectuais ultra-esquerdistas, dos quais uma boa parte milita, hoje, no PSD e no PS, tornando-se num caudilho da sua área política, pensando vir a tornar-se no Fidel ou no Ché Guevara da Europa.

À frente da nova polícia política, o COPCON, distinguiu-se pela perseguição e encarceramento de vários adversários políticos da sua área, quer à esquerda, quer à direita. Assinou mandados de captura em branco, onde os seus apoiantes colocavam os nomes de quem entendiam. Ameaçou os "reaccionários" (todos os oponentes do PC e da extrema-esquerda) de fuzilamento no Campo Pequeno.

Foi um dos derrotados do 25 de Novembro. Enquanto muitos militantes da esquerda a que pertencia reflectiram na nova realidade, chegando à conclusão de que a revolução falhara, Otelo não só enquistou na defesa das mesmas posições, talvez confiante nos 800 000 votos (16%) obtidos nas presidenciais de 1976, como se radicalizaria cada vez mais.

Em 1984, é preso, por indícios de ser o chefe do grupo terrorista FP 25. O Tribunal de primeira instância que o julgou, condenou-o a pesada pena. O mesmo fez, após recurso, o Tribunal superior. Entretanto, o Tribunal Constitucional anulou aquele julgamento, ordenando a sua repetição, o que nunca aconteceu, dada a amnistia aprovada no parlamento pelo PS e o PC relativamente às FP 25.

Otelo foi, de facto, uma pessoa de várias facetas políticas. A História julgá-lo-á como alguém que após ter servido a ditadura, foi importantíssimo no seu derrube, facto de que os amantes da liberdade lhe devem estar gratos, mas que, seguidamente, tudo fez contra a democracia. Fosse ou não das FP 25, desde pouco depois do 25 de Abril, a luta de Otelo foi sempre contra a liberdade e o regime democrático.

Apesar das acções de Otelo e outros oficiais do MFA conotados com o PC e a esquerda radical no PREC e posteriormente, o espírito original do 25 de Abril triunfou.

Viva o 25 de Abril !