SOCIALISMO E DESENVOLVIMENTO NÃO COADUNAM
Por Manuel Silva
Uma análise atenta do programa do actual governo conduz à conclusão de que José Sócrates e a sua equipa, apesar de moderados, mantêm-se agarrados a ideias socialistas ultrapassadas.
O primeiro-ministro não é o Blair ou sequer o Schroeder português.
Embora aquele programa não aponte para o facilitismo guterrista de má memória, também não é visível no mesmo qualquer aposta na exigência e no mérito.
A reforma do estado social, diminuindo os respectivos custos, não faz parte das intenções governamentais.
Na educação, sector fundamental para o progresso e o desenvolvimento económico-social, não se prevêem reformas de fundo tendentes a melhorar a sua qualidade.
À boa maneira da esquerda mais tradicional, que convive mal com a ideia de autoridade, não se fala da restauração da autoridade do professor, obviamente democrática e não aquela que pessoas da minha idade e mais velhas conheceram no tempo da ditadura.
A saúde continuará a ser tendencialmente gratuita. Para termos uma saúde de qualidade, quem pode deverá pagar mais pelos seus serviços ou efectuar seguros que garantam o acesso àquele bem fundamental.
O Estado só deverá assegurar a assistência médica gratuita às pessoas e famílias de mais baixos rendimentos.
Na segurança social, não há qualquer diminuição dos encargos estatais.
Teremos o regresso das SCUT.
Todas aquelas medidas apontam para um grande aumento de despesas. Apesar da flexibilidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento, porque não se perscruta que outras despesas poderá o governo recém-empossado cortar e o combate à fuga ao fisco, por mais eficaz que seja, demora anos a demonstrar resultados, compreende-se a afirmação segundo a qual os impostos não baixarão. Também não é dito se aumentam ou não, continuando tal omissão, provavelmente, a verificar-se até às próximas eleições autárquicas...
Ou seja, continuaremos a atrasar-nos na convergência económica e social com a média europeia, pois esta política não é incentivadora da captação de novos investimentos, ao contrário da aplicada em outros países desenvolvidos da UE e especialmente nos novos aderentes do leste, onde os impostos equivalentes aos nossos IRC e IRS têm taxas únicas abaixo dos 20%.
Nos próximos quatro anos, certamente ficaremos ainda mais na cauda dos 15 da UE, sujeitando-nos a ser ultrapassados por alguns dos novos 10.
Continuaremos a ser um país adiado. De facto, socialismo e desenvolvimento não coadunam.
In, "TERRAS DO BAROSO", de Abril de 2005