21.9.05

O IMPASSE RESULTANTE DAS ELEIÇÕES ALEMÃS
Por Manuel Silva

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Aquando da vitória do PLD e do seu líder, Junichiro Koizumi, nas recentes eleições japonesas, prognostiquei uma vitória idêntica dos democratas-cristãos e de Angela Merkel nas legislativas alemãs do passado domingo, a qual conduziria aquele país a uma política de reformas económicas e sociais, no sentido liberalizante, que o retirasse da letargia actual provocada pelos sociais-democratas e Shroeder.

Os democratas-cristãos venceram, de facto, mas a sua vitória teve sabor a derrota. Obtiveram apenas mais 1% de votos que o partido de Shroeder, além de terem baixado em número de votantes e de deputados, o que, aliás, também aconteceu com o SPD.

Os liberais tiveram um grande aumento de votos e de lugares no parlamento. O centro-direita totaliza 45% da votação nacional (a mesma que obteve o PS português nas últimas legislativas). No entanto, a "esquerda" é maioritária, adicionando os votos do SPD, dos seus dissidentes, liderados pelo seu ex-presidente Lafontaine, dos Verdes e dos ex-comunistas, de Gysi. Só que, os partidos ainda no poder (SPD e Verdes) não querem coligações com aqueles outros partidos de "esquerda". Logo, não conseguirão formar governo.

Os liberais também já afirmaram não pretenderem alianças com Shroeder e Joshka Fisher.

A Alemanha está, pois, num impasse. Provavelmente, acabará por ser formada uma grande coligação entre democratas-cristãos e sociais-democratas. Como ambos têm divergências que não são pequenas quanto a liberalização económica e social, o futuro não será risonho para os alemães. Logo, também não o será para o resto da UE.

Pode falar-se da falta de carisma, apesar de ser inteligente, de Angela Merkel, ou das suas “gaffes” durante a campanha. O que as eleições do passado dia 18 também mostraram, contrariamente às japonesas, é que existe um número elevado de europeus - já se tinha visto nos referendos realizados sobre a Constituição Europeia - que não aceita a reforma do Estado Social e, mais do que isso, continuando a recusar tal reforma, o emprego e o poder de compra continuarão a baixar.

Só diminuindo os encargos sociais suportados pelo Estado, mantendo-os, no entanto, em relação aos mais desfavorecidos, poderemos captar investimentos que fogem para outras paragens, e poderemos ousar enriquecer e vencer os desafios da globalização, que, como costumavam dizer os esquerdistas pela roda da História, não anda para trás.