26.10.05

A VITÓRIA DE CAVACO NAS PRESIDENCIAIS É IMPORTANTE PARA A ESTABILIDADE
Por Manuel Silva

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Mário Soares, ao anunciar a sua candidatura a Presidente da República, disse fazê-lo com o apoio do PS. Anteriormante, Manuel Alegre afirmou igual intenção de se candidatar à Chefia do Estado, dizendo ter feito contactos nesse sentido com o Partido de que é também uma figura histórica e o seu líder. No entanto, José Sócrates optou por Mário Soares.

Todos estes factos mostram ser a candidatura de Mário Soares claramente partidária e em benefício do PS. Caso seja eleito, Mário Soares, além de beneficiar, irá procurar fazer mudar o seu partido de rumo, pois, hoje, contrariamente ao líder e à direcção do PS, mais parece estar próximo da "esquerda" pesada (coloco a expressão entre aspas, porque sou dos que acham que cada vez faz menos sentido falar da dicotomia esquerda/direita) em matérias como a globalização, o anti-americanismo - procurando criar um fosso entre a Europa e os EUA, quando a aliança entre ambos é absolutamente necessária para combater o terrorismo e assegurar a liberdade - ou mesmo no tocante à economia de mercado.

Essa esquerdização de Mário Soares já foi bem patente no seu segundo mandato como Presidente da República quando, além de dificultar a vida ao governo do PSD, procurou arruinar a liderança de Guterres no PS, defendendo uma aliança deste partido com as demais forças à sua esquerda, contra a vontade dos seus dirigentes.

Mário Soares não é o homem moderado eleito, pela primeira vez, em 1986. A sua eleição além de fazer crescer ainda mais o já visível estado rosa, criaria dificuldades na própria família política a que pertence e no governo, provocando instabilidade, a qual só agravaria a difícil conjuntura económica, social, financeira e mesmo política, vivida presentemente.

Manuel Alegre é um intelectual brilhante, mas vê-se claramente não ter perfil para a chefia do Estado. Se ambos se candidatarem, tal atitude constituirá uma demonstração de falta de autoridade da direcção de um partido que ainda há bem pouco tempo alcançou uma vitória por maioria absoluta. Além das promessas não cumpridas pelo governo PS no tocante aos impostos que não aumentavam ou à criação de emprego, o ataque desbragado aos funcionários públicos, militares, polícias ou magistrados, esta confusão sobre as presidenciais também terá ajudado à clamorosa derrota dos socialistas nas autárquicas, nos grandes centros.

O PCP, O BE e o PCTP/MRPP também têm os seus candidatos (Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira). Todos os partidos de inspiração socialista ou comunista mostram ter uma concepção partidária (jacobina) da Presidência da República. Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã procurarão também medir forças dentro do espaço à esquerda do PS.

Nenhum dos anunciados candidatos de "esquerda é moderado e susceptível de atrair o eleitorado central, que deu vitórias a Sá Carneiro, Cavaco, Soares, Guterres ou Sócrates.

Cavaco Silva, previsível candidato quando escrevemos, pela sua acção política, no governo e não só, provou ser o mais indicado dos presidenciáveis para captar esse eleitorado, dado não ser de "direita", nem a sua possível candidatura representar, ao contrário do afirmado por alguns analistas, a dita direita, mas todo um eleitorado que, se quisermos utilizar a dicotomia herdada da Revolução Francesa, vai da direita conservadora moderada à esquerda moderada.

Se Cavaco Silva fôr candidato, a sua decisão será unipessoal. Certamente o seu partido apoiá-ló-á. A vontade do CDS e, particularmente, de Ribeiro e Castro, também aponta nesse sentido. No entanto, o ex-primeiro-ministro não está à espera de decisões de directórios partidários como os candidatos atrás mencionados.

Por outro lado, embora a política deva comandar as sociedades, na era da globalização a economia e as finanças são importantíssimas, pelo que o PR deve ser conhecedor profundo dessas matérias. Sê-lo-ão Mário Soares ou Manuel Alegre mais que Cavaco Silva?

O PSD também não pode querer que o candidato por si apoiado seja oposição ao governo, à semelhança de Mário Soares no segundo mandato. O Presidente da República deve garantir a defesa da liberdade, da democracia, do Estado de Direito e da soberania nacional, dar voz a quem a não tem, travar o abuso de outros poderes e ajudar, dando indicações ao governo (este ou outro que possa surgir durante o próximo mandato presidencial) na prossecução do bem nacional, incentivando reformas estruturais que vençam o nosso atraso económico e social relativamente aos nossos parceiros comunitários mais ricos.

Pela sua actuação na vida política, dentro ou fora do poder, e pelas ideias que sempre expôs quanto à relação entre órgãos de soberania, Cavaco Silva será o candidato que melhor reúne aquelas condições. Com a sua eleição, dar-se-á um passo importante na defesa da estabilidade. Assim a saibam outros aproveitar.

Publicado no jornal "Terras do Baroso", de Outubro de 2005.

PS: como se poderá verificar, este artigo foi escrito antes de Cavaco Silva anunciar a sua candidatura.