«A primeira vez que fui aos Estados Unidos foi em 1976, o ano do Bicentennial, estava o país inteiro eufórico com os seus duzentos anos de independência», escreve Miguel Sousa Tavares no «Expresso», para acrescentar mais à frente: «E cheguei a tempo de assistir na televisão aos impiedosos interrogatórios da comissão parlamentar de inquérito ao Watergate - autêntica lição prática do que é o sistema de balança de poderes e que culminaria, meses mais tarde, com a renúncia do pantomineiro Richard Nixon». Ora, o presidente Nixon resignou devido ao Watergate, é certo, mas em 1974, pelo que alguém do «Expresso» devia ter alertado o seu articulista em relação a uma memória algo confusa. É essa a função de um copy-desk, que, a ter existido neste caso, deveria também saber, quanto ao mesmo texto, que não é «Ali Burton» mas sim «Halliburton», que Rumsfeld não é (nem nunca foi) secretário de Estado mas sim da Defesa, que a Convenção de Genebra não é centenária mas sim cinquentenária e que os EUA não foram «o único país que votou nas Nações Unidas contra o comércio livre de armas de guerra», mas sim o único que votou contra o controlo desse comércio (ou seja, a favor do tal comércio livre de armas de guerra). Em última análise, e à falta de copy-desk, pecha cada vez mais grave nos media portugueses, os erros do artigo são da responsabilidade do respectivo editor, a sugerir que o «Expresso» devia mudar o seu slogan para: «Grandes editores fazem um grande jornal».17.11.06
«A primeira vez que fui aos Estados Unidos foi em 1976, o ano do Bicentennial, estava o país inteiro eufórico com os seus duzentos anos de independência», escreve Miguel Sousa Tavares no «Expresso», para acrescentar mais à frente: «E cheguei a tempo de assistir na televisão aos impiedosos interrogatórios da comissão parlamentar de inquérito ao Watergate - autêntica lição prática do que é o sistema de balança de poderes e que culminaria, meses mais tarde, com a renúncia do pantomineiro Richard Nixon». Ora, o presidente Nixon resignou devido ao Watergate, é certo, mas em 1974, pelo que alguém do «Expresso» devia ter alertado o seu articulista em relação a uma memória algo confusa. É essa a função de um copy-desk, que, a ter existido neste caso, deveria também saber, quanto ao mesmo texto, que não é «Ali Burton» mas sim «Halliburton», que Rumsfeld não é (nem nunca foi) secretário de Estado mas sim da Defesa, que a Convenção de Genebra não é centenária mas sim cinquentenária e que os EUA não foram «o único país que votou nas Nações Unidas contra o comércio livre de armas de guerra», mas sim o único que votou contra o controlo desse comércio (ou seja, a favor do tal comércio livre de armas de guerra). Em última análise, e à falta de copy-desk, pecha cada vez mais grave nos media portugueses, os erros do artigo são da responsabilidade do respectivo editor, a sugerir que o «Expresso» devia mudar o seu slogan para: «Grandes editores fazem um grande jornal».