1937-2006
Em actualização:
O Conselho da Europa condenou a execução do ex-ditador. Saddam Hussein era "um criminoso impiedoso", mas "não era preciso matá-lo", estimou hoje o secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, num comunicado publicado em Estrasburgo. Os iraquianos "precisam de justiça, de reconciliação e de paz, não de enforcamentos e vinganças", segundo Davis, que estimou que o Iraque perdeu uma oportunidade de "se juntar ao mundo civilizado". "A pena de morte é cruel e bárbara e eu apelo às autoridades iraquianas que a eliminem. É tarde, mas não demasiado tarde para que o Iraque se junte à maioria dos países civilizados e democráticos (...) que já aboliram a pena de morte", afirmou.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, qualificou de "notícia trágica" a execução. "Existe o perigo de que isto alimente o desejo de vingança e traga novos episódios de violência", comentou, aos microfones da Rádio Vaticano. "A morte de uma pessoa é um motivo de tristeza, incluindo quando essa pessoa foi culpada por vários delitos. A Igreja Católica reitera a sua oposição à pena de morte em todas as suas circunstâncias", acrescentou. "Com a morte de um culpado não se abre caminho para reconstruir a Justiça e reconciliar a sociedade", concluiu.
O vice-ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Hamid Reza Assefi, defendeu que a execução do antigo ditador "é uma vitória para os iraquianos".
O enforcamento de Saddam às mãos da nova «justiça» iraquiana evidencia o que já há muito se temia: que, à semelhança das, afinal, inexistentes «armas de destruição maciça» do Iraque, também o Estado de direito inexiste, agora, nesse país. Com esta morte do antigo ditador, a tão propalada «superioridade moral do Ocidente» acabou de sofrer um dos maiores abalos de sempre.
Irracionalidade e barbárie: É o que representa a execução de Saddam Hussein. Um passo mais na escalada caótica de regressão civilizacional no Iraque e no mundo, cortesia da Administração Bush e governos coligados.
Saddam foi um dos mais cruéis torcionários do sec. XX. Merecia um julgamento exemplar, processualmente inquestionável. E uma condenação severa, justa. Mas a pena de morte nunca pode ser justa: é uma barbaridade, ao nível das que Saddam cometeu. Cortesia da Administração Bush e governos coligados, sujeitaram-no antes a uma fantochada de justiça e executaram-no.
Saddam merecia viver para cumprir pena pesada e expiar de forma humilhante as incontáveis atrocidades que ordenou contra o seu povo e outros povos. Para que morresse um dia sabendo que ninguém mais no mundo árabe dava o seu nome a um filho. Em vez disso, cortesia da Administração Bush e governos coligados, morreu confortado por se tornar um mártir para muitos sunitas.
Porque não se julgou Saddam numa instância de justiça inquestionável, como poderia ser um tribunal no Iraque, mas obedecendo aos padrões do direito internacional e integrado por juízes, advogados e procuradores estrangeiros (americanos até), ao lado dos iraquianos?
Porque não interessava fazer luz sobre muitos dos mais tenebrosos crimes cometidos pelo regime de Saddam Hussein. Porque muitas potências, com os EUA à cabeça, e muitos governantes estrangeiros (incluindo Donald Rumsfeld) haviam sido cúmplices ou encobridores desses mesmos crimes. Como o extermínio dos habitantes da aldeia curda de Halabja, em 1988.
Capturado num buraco, Saddam foi poupado. Noutras circunstâncias outros sanguinários foram executados e as suas cabeças exibidas posteriormente às populaças. A decisão de espetar a merecida bala na cabeça de uma besta ou de a poupar para o circo nada, rigorosamente nada tem a ver com a justiça do homem. É uma decisão arbitrária, neste caso tomada por razões estratégicas pelo consciente e competente comando militar.
Este escolheu o circo. É portanto ao circo que assistimos. Se não queriam, porque pagaram bilhete para o primeiro balcão? O programa, incluindo o grand finale, era conhecido à entrada! Sair da tenda em protesto não abona em favor da plateia. Nada mesmo.
Uma das pessoas que assistiu ontem à execução da pena a que foi condenado o antigo ditador gravou o enforcamento e disponibilizou essas imagens, na íntegra, na Internet:Em actualização:
O Conselho da Europa condenou a execução do ex-ditador. Saddam Hussein era "um criminoso impiedoso", mas "não era preciso matá-lo", estimou hoje o secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, num comunicado publicado em Estrasburgo. Os iraquianos "precisam de justiça, de reconciliação e de paz, não de enforcamentos e vinganças", segundo Davis, que estimou que o Iraque perdeu uma oportunidade de "se juntar ao mundo civilizado". "A pena de morte é cruel e bárbara e eu apelo às autoridades iraquianas que a eliminem. É tarde, mas não demasiado tarde para que o Iraque se junte à maioria dos países civilizados e democráticos (...) que já aboliram a pena de morte", afirmou.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, qualificou de "notícia trágica" a execução. "Existe o perigo de que isto alimente o desejo de vingança e traga novos episódios de violência", comentou, aos microfones da Rádio Vaticano. "A morte de uma pessoa é um motivo de tristeza, incluindo quando essa pessoa foi culpada por vários delitos. A Igreja Católica reitera a sua oposição à pena de morte em todas as suas circunstâncias", acrescentou. "Com a morte de um culpado não se abre caminho para reconstruir a Justiça e reconciliar a sociedade", concluiu.
O vice-ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Hamid Reza Assefi, defendeu que a execução do antigo ditador "é uma vitória para os iraquianos".
O enforcamento de Saddam às mãos da nova «justiça» iraquiana evidencia o que já há muito se temia: que, à semelhança das, afinal, inexistentes «armas de destruição maciça» do Iraque, também o Estado de direito inexiste, agora, nesse país. Com esta morte do antigo ditador, a tão propalada «superioridade moral do Ocidente» acabou de sofrer um dos maiores abalos de sempre.
Irracionalidade e barbárie: É o que representa a execução de Saddam Hussein. Um passo mais na escalada caótica de regressão civilizacional no Iraque e no mundo, cortesia da Administração Bush e governos coligados.
Saddam foi um dos mais cruéis torcionários do sec. XX. Merecia um julgamento exemplar, processualmente inquestionável. E uma condenação severa, justa. Mas a pena de morte nunca pode ser justa: é uma barbaridade, ao nível das que Saddam cometeu. Cortesia da Administração Bush e governos coligados, sujeitaram-no antes a uma fantochada de justiça e executaram-no.
Saddam merecia viver para cumprir pena pesada e expiar de forma humilhante as incontáveis atrocidades que ordenou contra o seu povo e outros povos. Para que morresse um dia sabendo que ninguém mais no mundo árabe dava o seu nome a um filho. Em vez disso, cortesia da Administração Bush e governos coligados, morreu confortado por se tornar um mártir para muitos sunitas.
Porque não se julgou Saddam numa instância de justiça inquestionável, como poderia ser um tribunal no Iraque, mas obedecendo aos padrões do direito internacional e integrado por juízes, advogados e procuradores estrangeiros (americanos até), ao lado dos iraquianos?
Porque não interessava fazer luz sobre muitos dos mais tenebrosos crimes cometidos pelo regime de Saddam Hussein. Porque muitas potências, com os EUA à cabeça, e muitos governantes estrangeiros (incluindo Donald Rumsfeld) haviam sido cúmplices ou encobridores desses mesmos crimes. Como o extermínio dos habitantes da aldeia curda de Halabja, em 1988.
Capturado num buraco, Saddam foi poupado. Noutras circunstâncias outros sanguinários foram executados e as suas cabeças exibidas posteriormente às populaças. A decisão de espetar a merecida bala na cabeça de uma besta ou de a poupar para o circo nada, rigorosamente nada tem a ver com a justiça do homem. É uma decisão arbitrária, neste caso tomada por razões estratégicas pelo consciente e competente comando militar.
Este escolheu o circo. É portanto ao circo que assistimos. Se não queriam, porque pagaram bilhete para o primeiro balcão? O programa, incluindo o grand finale, era conhecido à entrada! Sair da tenda em protesto não abona em favor da plateia. Nada mesmo.
Em sentido contrário, a defesa da aplicação da pena de morte a Saddam aqui...
Este vídeo é para ver. Ao contrário do que se tem dito, o crime não é mostra-lo. O crime é o que ele mostra. Não é um atentado à dignidade do ser humano filmar um enforcamento. O atentado é o enforcamento. Quem mata assim um assassino, seja ele quem for, torna-se igual àquele que matou. Quem, com responsabilidades políticas ou judiciais, aceita que se mate em nome de uma estranha ideia de justiça, seja numa ditadura ou numa democracia, é um assassino e um cobarde. Seja por enforcamento ou injecção letal. A pena de morte é um crime. Um crime sem rosto, que é o mais sórdido de todos os crimes.