19.12.06
Uma mulher do Mal: Carolina Salgado: Os que falam dela na rádio, nos jornais (eu não vejo televisão) não conseguem dizer o seu nome. Carlos Magno, na antena Um, chamou-lhe dona Carolina. Podia ver-se a boquinha esticada no ênfase púdico. Como não se chama dona à vereadora do PP nem à irmã, que são as únicas senhoras que me vêm à cabeça a esta hora dominical, a distinção da forma de tratamento deve querer dizer alguma coisa. Eles explicam logo a seguir. A mulher, esta mulher, era uma alternadeira. Uma alternadeira é uma pessoa que vende a sua força de trabalho na praça da prostituição (é paleio marxista, mas se conhecerem melhor, façam favor de propor). Como o mercado é flutuante, o emprego é precário. O local de trabalho são bares e clubes, alimentados por homens que precisam de divertimento. Trabalham muito, fazem andar a roda das nossas existências e precisam de divertimento. Sempre foi assim. É a mais velha profissão do mundo. E sempre houve poderosos que se apaixonaram pelas putas, porque tão antigo como elas é o amor e a necessidade de amor dos homens, mesmo quando são poderosos e usam as mulheres como bens de consumo descartáveis. De vez em quando uma mulher sai do bordel para a corte. Alguns poderosos não gostam. Acham mal. É o início da desordem, o princípio da catástrofe. As coisas não devem ser mudadas de lugar. O bordel não deve ser confundido com o sítio das outras mulheres, as donas compassivas, as nossas mulheres, que visitam as putas nos lares de abrigo, lhes ensinam a virtude, o bom caminho e se for preciso lhes dão ajuda de berço. Esta mulher chama-se Carolina Salgado. Viveu com os poderosos, conhece-os, aprendeu-lhes as manhas, joga o jogo deles. Há quem não queira ouvir a história. Percebe-se. É Natal, e como disse o Roth, a filha do senador Lieberman deve ver televisão descansada.