The Host - A Criatura
Título original: Gwoemul
De: Joon-ho Bong
Com: Kang-ho Song, Hie-bong Byeon, Hae-il Park
Género: Acç, Dra, Fantasia, Ter
Classificação: M/12
Estúdios: Chungeorahm Film Coreia do Sul, 2006, Cores, 119 min.
Em plena luz do dia, os habitantes de Seur observam surpreendidos um estranho ser pendurado na ponte do rio Han... É na realidade uma monstruosa criatura que ao despertar começa a devorar todos os que se cruzam no seu caminho. Um homem assiste horrorizado à captura da sua filha pela besta. Enquanto o Exército fracassa sistematicamente nas suas tentativas de destruir o monstro, este homem simples, com a ajuda da sua família, decide empreender uma caçada por conta própria, na esperança de recuperar a filha. Considerado como o mais divertido filme de monstros dos últimos anos e capaz de rivalizar com os mais míticos monstros da história do cinema, "The Host - A Criatura" foi apresentado no Festival de Cannes e tem-se tornado num sucesso de bilheteira nos países em que já estreou.
"Passaram 15 meses desde a estreia siderante de The Host em Cannes 2006. Nos bastidores mais palpitantes desse festival, ninguém discutia outra coisa. Muita gente ouviu falar depois deste monstro anfíbio em forma de peixe com pernas que, numa bela tarde de Verão, sai das águas do rio Han para aterrorizar Seul, capital coreana, deixando um lastro de terror à sua passagem. Também nestas páginas, primeiro em Cannes, depois no «Fantas», destacámo-lo para primeiro plano. Entretanto, The Host pulverizou as bilheteiras coreanas e estreou em quase todos os países do mundo. Tornou-se um dos títulos mais recenseados do ano passado, e a sua «star» foi comparada aos melhores monstros da história do cinema. Se a comparação nos parece mau método de abordagem, nunca antes ela foi tão nociva: The Host, mais do que um filme de monstros, é uma mutação cinematográfica única, tão inesperada quanto a criatura que o popularizou. O filme já teve, inclusive, várias edições em DVD, e a Universal comprou os direitos para um «remake» em Hollywood. Esta distância, estes factos prejudicarão agora a tardia estreia portuguesa? Não acreditamos. Custa a crer que quem ouviu falar dele não o queira espreitar. Custará a perceber que quem já pôde vê-lo no pequeno ecrã não esteja morto por revê-lo a sério, no seu (grande) formato original, na sala de cinema mais próxima. Mais vale tarde que nunca: este é, afinal, um acerto de calendário vital com o melhor cinema asiático do novo século."
"Filme de terror e ficção científica, melodrama familiar, comédia burlesca, sarcasmo político, crónica de uma classe média sul-coreana sem luz ao fundo do túnel: não é fácil acertar o tom de todos estes ingredientes na mesma harmonia, nos gestos e nas acções de um sopro primitivo de cinema que nos vai conduzir fatalmente à infância. O vector principal do filme, e sem dele nada querer contar, é uma miúda, órfã de mãe, que o monstro leva consigo para parte incerta. A criança é o elemento mais novo dos Park, a família que, a partir de certo momento, decide enfrentar com violência não só o dito monstro mas todas as monstruosidades bem humanas e reais que estão à sua volta. Bong Joon-ho (ver texto ao lado) abre ainda mais o filão de uma das maiores obsessões do cinema contemporâneo: a recuperação da célula familiar dos clássicos enquanto grupo de resistência, enquanto força de insurreição, aqui próxima da anarquia, contra o poder. The Host apresenta um filme de terror em que o terror é apenas uma fatia do bolo — um monstro «do outro mundo» que traz o horror para o quotidiano e jamais nos faz esquecer o mundo em que vivemos."
"Se a nível técnico o filme roça a perfeição que a actualidade permite, o que mais espanta é a maturidade que leva Bong Joon-ho a afastar-se dos «clichés» dos géneros cinematográficos, criando ele próprio um género que nasce pela sua hibridez. Algumas opiniões apressadas, influenciadas pela suposta origem do monstro na ficção, não tardaram a politizar o filme, contra a vontade do realizador («O monstro é a América!», gritava-se à toa em Cannes), quando a verdadeira política é afinal a revolução cinematográfica que está dentro do filme, as suas variações brutais de ritmo na narrativa, o modo como realidade e pesadelo, lágrimas e sorrisos, são filmados com a mesma intensidade, na mesma expressão superior de cinema."
"O último Julho cinematográfico foi de Tarantino, para quem gostou de Death Proof mas também para quem o detestou. Não houve filme mais discutido nem polémica mais importante. Agosto fixará um nome: Bong Joon-ho. Vai ser o mês de The Host!"
Francisco Ferreira, Expresso de 11/08/2007