Mysterious Skin
Título original: Mysterious Skin
De: Gregg Araki
Com: Chase Ellison, George Webster, Rachael Nastassja Kraft
Género: Dra
Classificação: M/18
EUA/HOL, 2004, Cores, 99 min.
"Não é para todas as sensibilidades, mas não deixa nenhum espectador indiferente. É a história paralela de dois miúdos (Neil e Brian) sexualmente abusados pelo treinador de basebol, mas a maior parte do filme decorre dez anos depois. Neil desenvolveu uma vontade patológica de agradar a homens mais velhos e tornou-se prostituto — com um buraco negro no lugar do coração. Brian recalcou a experiência, fez desaparecer do consciente as cinco horas em que tudo decorreu. Ele lembra-se de estar no treino e, depois, em casa, apavorado, um fio de sangue a escorrer do nariz — e não sabe nada desse parêntesis que o vai perseguir pela adolescência fora, em pesadelos, sonhos estranhos, incompreensíveis terrores nocturnos... Uma década volvida, continua a procurar respostas, as mais das vezes em teorias extravagantes (terá sido raptado por extraterrestres?)."
"Não é fácil abordar uma história de crianças molestadas e conseguir que o filme esteja nos limites éticos desejáveis, nem tão alusivo que a aversão não se produza, nem tão explícito que entre na categoria das reprovações. Por outro lado, é admirável que Gregg Araki e o actor Bill Sage tenham conseguido o equilíbrio entre a sedução paternal e o impulso predatório sinistro na definição do abusador."
"E note-se como as cenas de abuso são tratadas com a perícia indispensável para não violentar os actores-criança, mas também com a indução precisa na mente do espectador do que efectivamente aconteceu. Nem é fácil a explicitação do adolescente «gay» e das suas relações sem que a fita caia em perspectivas homofóbicas ou na redução de fazer intuir a homossexualidade como corolário do abuso."
"Mysterious Skin navega num estreito corredor em que a severidade do olhar e da denúncia consegue sempre dar-nos a ver que a realidade das relações humanas e dos comportamentos sexuais é muito complexa. Veja-se, por exemplo, a galeria de personagens secundários, nomeadamente os amigos e a mãe de Neil (esplêndida Elisabeth Shue), caleidoscópio de gente um pouco desviada da norma, mas exuberantemente viva. É esse matiz — a denúncia sem a afirmação de baias — que torna o filme inapropriável por qualquer fundamentalismo comportamental ou mesmo qualquer código moral. Está aí a melhor razão para o olharmos de frente."
Jorge Leitão Ramos, Expresso de 25/08/2007