Título original: Death at a Funeral De: Frank Oz
Com: Matthew Macfadyen, Keeley Hawes, Andy Nyman
Género: ComDra
Classificação: M/12
África do Sul/ALE/EUA, 2007, Cores, 90 min.
"No início, com o ecrã a negro, ouvimos apenas o rumor de pneus a sulcar a gravilha. Depois, chega o primeiro plano e, com ele, a carrinha de uma funerária estacionada à entrada de uma casa de campo britânica. Quatro homens saem da carrinha, retiram um caixão do interior e transportam-no para dentro da casa. Aí, um homem de semblante carregado aguarda pelo caixão numa sala. Os cangalheiros entram com o caixão e depositam-no num pedestal. A solenidade da ocasião asfixia as palavras e convoca um silêncio que se adensa. De súbito, um dos cangalheiros rompe o compasso de espera e fixa olhos nos olhos o homem de semblante carregado: «Deseja ver o seu pai uma última vez?» O homem engole em seco e acena com a cabeça num gesto nervoso. O cangalheiro descerra o caixão para revelar o cadáver de um homem de meia-idade. O homem olha pela última vez para o pai com os olhos marejados de lágrimas, mas inverte o rumo dos acontecimentos com uma exclamação: «Este homem não é o meu pai!» Apanhados de surpresa, os cangalheiros desdobram-se em desculpas de ocasião, fecham o caixão e abandonam a sala com a promessa de uma rápida devolução do falecido à família."
"Com estas linhas se cose a primeira sequência do novo filme de Frank Oz (realizador, actor e titereiro que colaborou com Jim Henson na criação de «Os Marretas» e que regista uma dúzia de filmes no seu currículo de realizador). "
"E se tanto tempo demorámos a descrevê-la foi porque ela sintetiza bem o programa de trabalhos desta divertida farsa burlesca."
"A palavra de ordem é «economia»: economia narrativa, primeiro, com uma única situação (a do funeral) a condicionar todo o desenvolvimento da acção; economia de espaço e tempo, depois, com toda a acção a decorrer num mesmo local (a casa do falecido) e num tempo condensado (uma tarde); economia de personagens, ainda, com a família e os amigos do falecido a operarem apenas como catalisadores do humor; e economia humorística, por fim, com o cómico a nascer de um efeito de contraste entre a solenidade da ocasião e o grotesco das peripécias (e aqui haverá alucinogénios a circular de mão em mão, anões moralmente comprometedores e obscuras manobras de chantagem)."
"Uma última nota para o argumento de Dean Craig, que, sabendo embora gerir com precisão o «timing» cómico, falha rotundamente na exploração dos «tempos mortos» (ou seja, das sequências que medeiam entre os «gags»), ora abandonando as personagens à sua sorte ora desmultiplicando subenredos avulsos."
Vasco Baptista Marques, Expresso de 22/09/2007