19.11.07

Beowulf 3D Digital
Título original: Beowulf
De: Robert Zemeckis
Com: Angelina Jolie (Voz), Anthony Hopkins (Voz), John Malkovich (Voz)
Género: Ani, Fantasia
Classificação: M/12
EUA, 2007, Cores

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M. Cintra Ferreira, Expresso de 17/11/2007


"Era inevitável que a mais famosa saga anglo-saxónica, Beowulf, acabasse por chegar aos ecrãs, agora que as imagens de síntese permitem criar as mais estranhas e fantásticas personagens, especialmente após o sucesso de bilheteira da trilogia O Senhor dos Anéis, saga esta mais conhecida do grande público, criada no século XX por Tolkien, grande admirador de Beowulf, onde se inspirou para a sua obra."

"Beowulf é um longo poema épico, de autor anónimo, e que será, antes, uma compilação de várias narrativas escritas entre os séculos V e X, inspiradas em lendas escandinavas sobre as proezas de um poderoso guerreiro-herói, chamado Beowulf (nome que é uma síntese primitiva das palavras «bee» (abelha) e «wolf» (lobo). É, de certo modo, uma espécie de alegoria sobre o fim do velho mundo e o nascimento de um outro, os tempos primitivos e bárbaros dando lugar a uma nova civilização. Beowulf, com a inteligência e força dos animais que lhe servem de nome, percorre o mundo para provar a sua força e coragem em luta contra os seres fantásticos que sobrevivem. É assim que ele chega um dia às terras do rei Hrothgar, ameaçadas por um ser monstruoso, Grendel, que se alimenta de vítimas humanas. A vitória sobre o monstro leva Beowulf ao trono após a morte de Hrothgar, e, muitos anos depois, o herói terá de enfrentar um novo monstro ainda mais perigoso, um dragão filho também da mãe de Grendel, que assim procura vingar a morte deste."

"Os argumentistas de Beowulf, o nosso já conhecido Neil Gaiman (autor de novelas gráficas como «Sandman», a quem o «Actual» dedicou algumas páginas há poucas semanas, a propósito da estreia de um outro filme inspirado numa das suas obras: Stardust) e Roger Avary (colaborador de Quentin Tarantino em Pulp Fiction, e também realizador), fizeram algumas alterações à história original que lhe dão um ar mais moderno e uma mais profunda abordagem psicológica. As alterações têm a ver, especialmente, com as personagens dos monstros, aos quais Gaiman e Avary dão uma filiação que os liga às personagens principais. Embora nada seja dito nos diálogos, o espectador percebe facilmente que Grendel e o dragão são filhos respectivamente de Hrothgar e Beowulf, de uma mãe comum, a feiticeira da caverna, que os seduziu aquando da busca que cada um deles fizera. A busca de Beowulf deste ser misterioso, que se materializa numa belíssima mulher de pele de ouro (Angelina Jolie serve de modelo) é interrompida bruscamente na narrativa, o que não permite assistir ao desenlace, mas a elipse permite adivinhar que algo de estranho se passou."

"Beowulf traz, na realização, a assinatura de Robert Zemeckis, conhecido realizador especializado no cinema fantástico, autor de obras como a trilogia Regresso ao Futuro ou Quem Tramou Roger Rabbit? Este último filme é uma boa pista para o trabalho de Zemeckis em Beowulf. O filme era a mais hábil exploração, até à época, da síntese de imagem real com animação. Mas Zemeckis tinha outras obsessões, especialmente a de criar verdadeiros «actores de síntese». As modernas técnicas digitais permitiram-lhe dar outro passo em direcção a esse objectivo com a realização de Polar Express, onde Tom Hanks se tornou o corpo onde Zemeckis e os seus colaboradores experimentaram pela primeira vez aquilo que se chama de «performance-capture» (o corpo do actor é coberto de pequenos pontos brancos que permite aos técnicos «captar» a «representação» e sintetizá-la nos computadores, técnica que já fora aplicada na criação da personagem de Golum, no Senhor dos Anéis). O trabalho deu origem a um neologismo, «synthespian» («Representação sintética», que poderá ser um passo para que num futuro não muito distante se possam «recriar» desta forma figuras como as de Marilyn Monroe ou Humphrey Bogart, para novos filmes! Não será por acaso que se disputam já os «direitos» sobre algumas dessas imagens!)."

"A «performance capture» faz-se, neste filme, sobre as figuras de Ray Winstone (Beowulf), Anthony Hopkins (Hrothgar), Robin Wright Penn (Walthow, mulher de Hrothgar), John Malkovich (Unferth), Brendan Gleeson (Wiglaf, o companheiro de aventuras de Beowulf), Crispin Glover (Grendel) e Angelina Jolie (a mãe de Grendel), entre outros, e as imagens de síntese que daí resultam são praticamente perfeitas, com destaque para a última, com a sua longa cauda reptilínea. E a acção encenada por Zemeckis tem rasgos também eles de fantástico. Na série de belíssimas cenas que compõem o filme, destaca-se a do combate de Beowulf com o dragão, talvez a mais espectacular até hoje feita num ecrã, assim como o funeral de viking do herói, com a cascata de fogo que cai da montanha."



"Experiência espectacular que anuncia o cinema do futuro, Beowulf é apresentado de duas formas: na versão tradicional de imagem plana, e outra em três dimensões. Também neste caso, o filme de Zemeckis é um salto enorme das experiências anteriores (que vêm, no cinema comercial, desde 1953), estando os enquadramentos preparados de forma a dar a maior impressão de realismo, de tal forma que, em muitas cenas, o espectador sente-se literalmente «no meio» da acção. Um espectáculo absolutamente imperdível."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 24/11/2007