Título original: American Gangster
De: Ridley Scott
Com: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor
Género: Dra, Thr
Classificação: M/16
EUA, 2007, Cores, 157 min.
"Gangster Americano é a história de Frank Lucas, guarda-costas de um «padrinho» do Harlem, «Bumpy» Johnson, que dominou o bairro negro de Nova Iorque até 1968, data em que foi prostrado por um ataque cardíaco. Lucas (Denzel Washington) impõe-se sobre os restantes candidatos à chefia do gang graças a um golpe «magistral»: a importação de heroína em estado puro que fez dele o principal fornecedor de droga, aliando-se a figuras gradas da Máfia. O «golpe» de Lucas foi ir à fonte do, então, principal fornecedor, o Sueste asiático, transportando a heroína para os Estados Unidos dentro dos caixões que traziam os cadáveres dos militares americanos abatidos na guerra do Vietname."
"Tal como fica dito, o filme poderia ser uma recuperação do «blaxploitation film» (filmes de «gangsters» interpretados por negros, populares naquela época em que a conquista dos direitos cívicos veio trazer a «negritude» a primeiro plano, numa série de filmes de que Shaft pode ser considerado o modelo). A apoiar a hipótese temos uma reconstituição de época criteriosa onde pontuam nomes conhecidos como o de Muhamed Ali, entre outros."
"Mas o argumento de Steve Zaillian (que escreveu Gangs de Nova Iorque) faz da história de Lucas apenas uma parte do filme. A restante tem a ver com o trabalho desenvolvido por Richie Roberts, um agente incorruptível encarregado de formar uma brigada para lutar contra os grandes traficantes e, que a pouco e pouco descobre a figura de Lucas como a eminência parda do negócio. A personalidade de Roberts é exposta numa das primeiras sequências, quando numa vigilância com o parceiro se apodera de um milhão de dólares de um traficante e entrega o dinheiro na esquadra (o que o deixa «marcado»). Roberts terá de lutar também contra a corrupção policial, que atinge mesmo uma outra brigada especial."
"A luta entre os dois homens traz a memória de alguns filmes clássicos da época em que a acção decorre. Para além dos filmes «negros» como Shaft, o que mais se aproxima é o de William Friedkin, Os Incorruptíveis contra a Droga e um seu sucedâneo dos anos 80, o magnífico O Ano do Dragão, de Michael Cimino (com este partilha a «viagem» ao Vietname), enquanto o duelo entre os dois homens tem um certo parentesco com o de Heat, de Michael Mann (como neste as duas vedetas só têm um frente a frente)."
"Porém, curiosamente, vindo de quem vem, Riddley Scott, o filme insiste menos na violência, e mais na descrição de um tempo e da personalidade de cada uma das figuras, e dá também um retrato incisivo do que eram as relações de traficantes e a Polícia (não é por acaso que um dos produtores é Nicholas Pileggi, argumentista de Tudo Bons Rapazes e Casino, de Scorsese). Scott recusa as receitas mais em voga, acção bruta e acéfala, para construir um drama em que se confrontam duas vontades e duas éticas: a do negócio (o chefe da Máfia dá uma lição de economia de mercado a Lucas) e a do dever."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 17/11/2007
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 17/11/2007