Título original: Redacted
De: Brian De Palma
Com: Francois Caillaud, Patrick Carroll, Rob Devaney
Género: Dra, Gue
Classificação: M/18
EUA, 2007, Cores, 90 min.
"Imagens da guerra ou guerra das imagens? Censurado é um filme conceptual que ultrapassa a sua sinopse e o seu resultado narrativo. Gira em torno de um grupo de soldados americanos na guerra do Iraque e de um crime com base verídica. Hollywood vive obcecada com o 11 de Setembro e diz-se que De Palma fez agora o seu filme político. Mas onde está a política? Não se espere daqui um cavalo-de-batalha contra a América (a de Bush). Vítimas e carrascos. Cinema contra televisão. Não, o gesto político é menos óbvio, mais profundo. Vivemos sem resposta para a interrogação de Bazin (o que é o cinema?) e perguntamos: e se o cinema do século XXI estiver no «home movie», na Net? Desaparecerá? Ou alargará fronteiras?"
"Quando De Palma viu que havia «outra guerra» no Iraque, filmada pelas câmaras DV dos soldados e exibida na Net, descobriu um manancial de imagens mil vezes mais livres do que as que já nos deram do conflito. Depois, inventou tudo. Recriou essas imagens (tudo é verdade e mentira em Censurado) ao ponto de transformar este num dos filmes mais experimentais alguma vez feitos. Onde está a política? No risco. Brian de Palma está a brincar com o fogo. Não por decretar a fronteira do desaparecimento do cinema, mas por convidá-lo a uma metamorfose. Censurado corre o perigo de ser aniquilado em imagens do YouTube, indistintas e informes: sem assinatura. Porém, se a autoria desaparece, as imagens estão lá, valem o que valem, e Censurado tem a mais-valia de acreditar nelas com uma paixão incondicional, através de um falso documentário em que tudo é ficção. "
"De Palma não quer retirar daqui uma verdade escondida nem procurar o ponto de vista mais justo. O objectivo é mostrar ao mundo que aquelas imagens existem, nas câmaras DV, nos computadores, nos telemóveis e que a partir de agora é impossível ignorá-las. Da prática da disposição dessas imagens nascerá um cinema mais aberto, mais radical, que se reinventa como De Palma o reinventou."
Francisco Ferreira, Expresso de 22/12/2007
Francisco Ferreira, Expresso de 22/12/2007