22.1.08

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias
Título original: 4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile
De: Cristian Mungiu
Com: Anamaria Marinca, Laura Vasiliu, Vlad Ivanov
Género: Dra
Classificação: M/16
ROM, 2007, Cores, 113 min.

"Não têm sido muitos («et pour cause!») os filmes a tratarem do aborto, e, quando aparecem, são geralmente à volta de alguns de carácter criminal. É o caso de Uma Questão de Mulheres, de Claude Chabrol, de Vera Drake, de Mike Leigh, mesmo um mais antigo, Ten Rillington Place, de Richard Fleischer, todos baseados em factos reais."

"O filme de Cristian Mungiu não tem este aval, mas nem por isso deixa de ser menos «real» nos factos que conta. Palma de Ouro no último Festival de Cannes, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias foi o primeiro filme romeno a conquistar aquele galardão impondo deste modo, «oficialmente», a «nova vaga» do cinema romeno pós-Ceausescu, sendo o terceiro desta série a estrear-se entre nós, depois de A Morte do Sr. Lazarescu e A Este de Bucareste."

"O filme decorre em pouco mais de 48 horas e conta-nos o drama de duas raparigas, estudantes, uma que vai fazer um aborto e a outra que a acompanha ao longo de todo o processo. Praticamente, o filme divide-se em três actos: na residência estudantil, onde as duas amigas se preparam para o acto, no quarto do hotel onde ele vai ter lugar, com o aborcionista, e no jantar em casa do namorado da segunda, onde a jovem enfrenta a mentalidade e a moral do tempo. Mungiu filma num estilo próximo do «realismo» britânico: câmara na mão, planos-sequência e uma fotografia que tira excelente partido da noite em ruas sombrias, e consegue criar um clima de tensão bastante forte na longa sequência do quarto do hotel."



"O problema do filme talvez seja a ambiguidade. Se a ideia era expor de forma crua o drama do aborto clandestino, Mungiu deveria ter-se «distanciado». Certos pormenores sórdidos parecem estar ali para dar uma caução «moral» de condenação do acto (o comportamento do aborcionista, e, principalmente, o plano, que roça o abjecto, do feto)."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 19/01/2008