13.1.08

Cristóvão Colombo - O Enigma
Título original: Cristóvão Colombo - O Enigma
De: Manoel de Oliveira
Com: Manoel de Oliveira, Ricardo Trêpa, Leonor Baldaque, Luís Miguel Cintra
Género: Dra
Classificação: M/6
FRA/POR, 2007, Cores, 70 min.

"Recebido, uma vez mais, com aplausos estridentes em Veneza, o novo filme de Oliveira foi inspirado em Cristóvão Colon [Colombo] Era Português, livro do médico e investigador Manuel Luciano da Silva e de sua mulher, Sílvia Jorge da Silva. O livro defende a hipótese de que Cristóvão Colombo é português, fruto dos amores proibidos do infante D. Fernando e de Isabel Gonçalves Zarco (filha do descobridor da ilha de Porto Santo). O nome de baptismo de Colombo seria na verdade Salvador Fernandes Zarco. Por causa do escândalo, Colombo teria nascido em segredo, na vila alentejana de Cuba e, adianta o livro, é por isso que a Cuba das Antilhas tem o nome que tem. A esta tese e a esta história, Manoel de Oliveira acrescenta um subtítulo que não é da responsabilidade do livro, mas sua: «O Enigma». Mas onde está o enigma? Na origem de Colombo? Não, o enigma é outro. O que Oliveira interroga neste filme apaixonante não é a nacionalidade de Colombo, mas os seus feitos e a sua memória perdida, e por eles a importância fulcral da universalidade e dos descobrimentos portugueses na história do mundo. De que modo o faz? Transformando o inquérito a Colombo e à história num filme sobre a aprendizagem do «viver a dois». Digamos que Colombo é um pretexto para Oliveira interrogar a origem da vida, seguindo o percurso de Manuel Luciano e de Sílvia, desde os anos 40, década em que Manuel Luciano emigra para os EUA, até à actualidade. «A vida é complexa, como as mulheres», aprende Manuel Luciano na viagem para Nova Iorque. Ora, o casal Manuel/Sílvia, aprenderemos nós, resistirá a todas as dúvidas. A fé desse casal em si próprio atravessará o filme inteiro como uma força subterrânea que o alimenta. Importa menos o destino das personagens do que o caminho que a vida as levou a percorrer, numa altura em que o fim da linha se sente próximo."



"A radicalidade de Cristóvão Colombo — o Enigma vem de um gesto de cinema com a sabedoria e a simplicidade dos justos. Vê-se e revê-se este filme e a sua simplicidade descobre sempre camadas mais profundas. Repare-se como Oliveira nos dá um efeito de época, filmando Lisboa, Porto, Cuba, ou Nova Iorque (aquele «falso nevoeiro» sternberguiano...) em contrapicados sucessivos: ideia brilhante. Repare-se na simplicidade do discurso e no genial antinaturalismo da direcção de actores, que a mais nada se assemelha: só mentes insensíveis poderão reduzi-los a ingenuidade. Repare-se, para continuarmos com coisas simples, nas sequências em que o próprio Oliveira e a sua esposa, Maria Isabel, decidem representar Manuel Luciano e Sílvia. Acaso ou não (e Oliveira confessou-nos que só foi actor por exigências de produção), esses momentos inventam um casal inseparável dentro e fora da ficção. Moldam uma espécie de auto-retrato desconstruído do próprio cineasta, perturbador e apaixonante como raros o foram na história do cinema. Grande filme."
Francisco Ferreira, Expresso de 14/01/2008