Título original: Cassandra's Dream
De: Woody Allen
Com: Colin Farrell, Ewan McGregor, Sally Hawkins, Hayley Atwell
Género: Dra
Classificação: M/16
EUA/GB, 2007, Cores, 108 min.
"Em 2004, Woody Allen dirigiu aquele que foi, até ver e na actual fase da sua carreira, o seu último filme em Manhattan. Chamou-se Melinda e Melinda, e talvez não se tenha prestado a devida atenção à sua história, que dava duas perspectivas diferentes de um mesmo destino de mulher: um cómico e um dramático. É que, em toda a obra do realizador, esta alternância entre o burlesco e o trágico, se praticamente não teve relevância durante boa parte dela, passou recentemente a ser dominante (mais concretamente a partir de Ana e as Suas Irmãs, apesar de Intimidade). Os filmes de Woody Allen depois de Melinda e Melinda parecem ser o natural desenvolvimento dessa divisão. Primeiro com o drama Match Point, depois com o burlesco Scoop. Em ambos os casos, andamos à volta de crimes. Em O Sonho de Cassandra também. E também aqui envolvendo personagens complexas e nevróticas."
"De certo modo, os irmãos deste filme, Ewan McGregor e Colin Farrell, correspondem às duas facetas de Melinda e Melinda, mas com os dados baralhados. Assim, a personagem de Farrell, a mais trágica pela sua dimensão patética, devorada pelos remorsos, acaba por se tornar cómica, devido a essa ênfase. Por sua vez, a de McGregor, leviana e oportunista, poderia ser a cómica, se os acontecimentos a não forçassem a tomar medidas extremas e dramáticas. A questão é que aos dois irmãos, carregados de dívidas, é-lhes proposto pelo tio, empresário sem escrúpulos, um negócio: matarem uma testemunha incómoda. Cumprido o trato, chega o momento do medo e do remorso, do inevitável castigo pelo crime. E, inseparáveis até então, começam a voltar-se um contra o outro. O destino, irónico como em todos os filmes de Allen, vela para os voltar a unir de forma singular."
"Não sendo dos melhores filmes de Woody Allen, O Sonho de Cassandra é, mesmo assim, uma peça fundamental para a compreensão da sua obra."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 12/01/2008
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 12/01/2008