Um Homem Perdido
Título original: Un Homme Perdu
De: Danielle Arbid
Com: Melvil Poupaud, Alexander Siddig, Darina El Joundi
Género: Dra
FRA, 2007, Cores, 93 min.
Título original: Un Homme Perdu
De: Danielle Arbid
Com: Melvil Poupaud, Alexander Siddig, Darina El Joundi
Género: Dra
FRA, 2007, Cores, 93 min.
"AS PRIMEIRAS palavras são de apresentação de uma cineasta de 38 anos, Danielle Arbid. Há algo de cinematográfico na sua experiência de vida, um vaivém constante entre diferentes territórios e línguas. Arbid nasceu em Beirute, no Líbano, instalou-se em França aos 17 anos e foi aí que se tornou cineasta. O trabalho levou-a de regresso ao seu país natal por várias vezes e sob múltiplas formas. Desde o momento em que escolheu a profissão, Arbid tem oscilado entre curtas e longas-metragens (algumas já exibidas em festivais portugueses), entre o documentário e a ficção, e também já passou pela videoarte. Não é comum começarmos por aqui, pelas apresentações, apesar do nome da cineasta pouco ou nada dizer ao espectador português. Contudo, no caso de Um Homem Perdido, descoberto na Quinzena dos Realizadores de Cannes 2007, o enquadramento biográfico é vital, já que a relação Ocidente-Oriente, tão cara à cineasta, está no centro do jogo. Arbid influenciou-se na vida e na obra de um fotógrafo, Antoine d’Agata, que co-assinou o argumento com a realizadora."

"Fouad será o «modelo», Thomas o fotógrafo. O primeiro desafia o perigo com o corpo, o segundo com a máquina fotográfica. E é evidente que, mais tarde ou mais cedo, estalará entre ambos uma relação de poder insustentável. No meio, está algures o olhar sensual de Danielle Arbid, o seu desejo em compreender o puritanismo patriarcal que reina no mundo muçulmano, a sua vontade de agitar as águas. Talvez no sexo, e pelo sexo, haja uma resposta, uma fuga, o mesmo exílio de Fouad e Thomas, que jamais compreenderemos. Talvez pela vertigem do desejo se possa criar uma relação entre corpo e imagem muito rara no cinema árabe e no território do Islão, o mesmo território que a realizadora, com pena, confessou estar a sentir desaparecer da sua vida «como um barco que vai desaparecendo no horizonte». Digamos que Um Homem Perdido, no meio dos seus mistérios e da sua irregularidade, no meio de uma ambiência muito pesada e nem sempre impermeável a «clichés», é uma espécie de deambulação onírica e erótica contra o presente do Médio Oriente. É um daqueles casos em que o gesto autobiográfico se encontra, não na narrativa, mas na ideia de transformar um filme em viagem sensorial. De certa forma, é um filme com vontade de substituir a incompreensão de um espaço físico pela afirmação de um espaço mental, mais alternativo e vitalista, mas nem por isso mais esclarecedor."
Francisco Ferreira, Expresso de 07/06/2008