Título original: Tropa de Elite
De: José Padilha
Com: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Maria Ribeiro
Género: Acç, Thr
Classificação: M/16
BRA, 2007, Cores, 117 min.
De: José Padilha
Com: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Maria Ribeiro
Género: Acç, Thr
Classificação: M/16
BRA, 2007, Cores, 117 min.
"A GENTE PERCEBE, desde o primeiro plano, que o realizador José Padilha não quer que fique qualquer dúvida a respeito: o nome do jogo é realismo, o lugar são as favelas do Rio de Janeiro, o clima é de guerra civil. O filme faz-se com a câmara à mão, muito grão na imagem nocturna, dir-se-ia que colhida por um operador apanhado no meio da acção, filmando conforme lhe é possível. A ideia é atirar com o espectador pelas vielas do morro, com a lama por baixo, as balas a zunir por cima, na pele um arrepio de pânico; a ideia é mergulhá-lo numa realidade afrontosa. Para um brasileiro, trata-se de fundamentar um efeito de reconhecimento, e, se atendermos ao que, copiosamente, se pôde ler na imprensa daquele país, a meta foi atingida. Todavia, ao mesmo tempo que procura uma espécie de imersão no real, José Padilha dotou o seu trabalho com a voz de um narrador - o capitão Nascimento, comandante de um esquadrão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) - e, deste modo, tornou explícito que o filme tem um ponto de vista, o «real» ganha aspas porque filtrado pelo olhar de alguém."
"Temos assim que Tropa de Elite é um filme sobre o narcotráfico, o BOPE e o estado geral de combate quotidiano, pelos olhos de um comandante desse corpo policial que veste de negro, tem como símbolo uma caveira e, quando entra nas favelas, é para disparar pela certa. Esta mera enunciação faz acordar um sentimento de alerta, uma chispa que cheira à pólvora da polémica. Se se acrescentar que uma ONG a operar na favela é dada como um conjunto de meninas e meninos burgueses com preocupações sociais, sempre prontos a acusar a Polícia de violência, alguns dos quais fumam tranquilamente maconha, um deles trafica e todos pactuam com o poder fáctico instalado nas ruas pelos barões da droga... - teremos o rastilho para apelidar de «fascista» esta obra. E, no entanto, o filme é muito mais complexo do que isso."
"Para começar, há um retrato global da força policial ensandecedor - laxismo, corrupção, esquemas, a lei e a ordem nem sequer parecem incluídas no rol das preocupações -, a que o BOPE procuraria dar resposta pela rigorosa integridade dos seus homens. Elogio do BOPE, portanto. Porém, o protagonista é um homem psicologicamente em crise, que quer sair da corporação, que não sabe como conduzir a sua vida equilibradamente e que não é, nem de perto nem de longe, a efígie de um herói. O elogio do BOPE sai, assim, velado. E que dizer das brutais cenas de tortura (mais brutais que a da execução do delator pelo «boss» do narcotráfico)? A voz «off» parece justificar a prática da tortura, mas o que vemos é tão hediondo que, por certo, o espectador estremece."
"Tropa de Elite é um filme poderoso, que acusa, aos gritos, uma situação intolerável. Não é um libelo com soluções na manga, é mesmo o contrário disso. O que nele nos sobressalta não é uma hipotética apologia do tiro e queda, mas a verificação que essa não é a solução, mesmo se o tiro e queda têm de fazer parte do pacote. O que no filme nos faz mover - e suponho que, no Brasil, muito mais - é a constatação do mercado, é a afirmação que, sempre que uma linha de coca é snifada no Leblon, há um miúdo na favela em risco de ser baleado, porque é o dinheiro dos clientes que paga as balas dos matadores. E isso é uma daquelas verdades revolucionárias que fazem com que Tropa de Elite possa muito bem ser considerado como um filme de denúncia. Assim deve ter pensado o júri do Festival de Berlim, presidido por Costa-Gavras, que lhe atribuiu o Urso de Ouro, em Fevereiro passado."
Jorge Leitão Ramos, 12/07/2008
Jorge Leitão Ramos, 12/07/2008