Título original: Surveillance
De: Jennifer Chambers Lynch
Com: Julia Ormond, Bill Pullman, Pell James
Género: Dra, Thr
Classificação: M/16
ALE/EUA, 2008, Cores, 98 min.
"HÁ CERCA de 15 anos, Jennifer Chambers Lynch, herdeira de um nome prestigioso, David Lynch, resolveu seguir os caminhos do papá pela direcção cinematográfica. Convencida de que o génio é inato ofereceu-nos uma «coisa» a que deu o título de Boxing Helena, que por cá se chamou Paixão Selvagem, e que provocou arrepios (e não de prazer) entre os cinéfilos. Sempre acreditei que se deve dar uma segunda oportunidade a quem falhou a primeira, mesmo com as reservas que Paixão Selvagem me provocaram. Quinze anos depois, e um longo périplo que parece ter passado pelo domínio das drogas (o que é compreensível!) e por uma cura de desintoxicação, Jennifer Lynch regressou ao trabalho, e o resultado, este Vigilância que agora se estreia, justifica a minha primitiva crença. Sem estar à altura do progenitor (mas quem consegue lá chegar?), Jennifer Lynch oferece-nos um filme particularmente estimulante e com uma narrativa que consegue fazer funcionar as suas personagens sem a confusão do filme anterior. Pode dizer-se que todas as expectativas são, agora, justificadas. A influência do pai permanece (aliás, é ele o produtor do novo filme da filha), o que até não é mau. Jennifer foi buscar elementos que costumam trabalhar com ele, começando pelos intérpretes principais, Julia Ormond (Inland Empire) e Bill Pullman (Estrada Perdida), e o filme está marcado pela atmosfera insólita e pelas situações estranhas que marcam o cinema de David Lynch. "
"De certo modo, pelo tipo de intriga, Vigilância parece um episódio mais elaborado e complexo da série Twin Peaks (não esqueçamos que Jennifer escreveu a sua novelização), a que não faltam dois singulares agentes do FBI que surgem para fazerem os interrogatórios às testemunhas e sobreviventes de um massacre. A entrada em cena de Bill Pullman recorda a de Kyle MacLachlan, com idêntica função naquela série, com os mesmos tiques e estranhas reacções. Outras características mais inquietantes destes agentes revelar-se-ão a meio do filme, tornando a situação ainda mais complexa e demente."
"Vigilância abre com uma sequência notável, que por si só nos faz esquecer o trabalho anterior da realizadora: um massacre executado com particular selvajaria, com uma fotografia granulosa e escura. Os sobreviventes de outro massacre na estrada contam o que aconteceu, mas o que vemos não corresponde exactamente ao que eles contam. Naquela estrada perdida todos têm algo a esconder, e é isso que os agentes do FBI aparentam querer conhecer, incidindo particularmente sobre uma sádica dupla de polícias de estrada que se lançam sobre os incautos automobilistas. Tudo isto dá um «cocktail» explosivo que irá rebentar, com uma surpresa, na cara do espectador."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 18/07/2008
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 18/07/2008