"Uma operação policial como a que aconteceu no assalto ao BES de Lisboa poderia ter quase todos os desfechos. O único sem mácula seria a libertação dos reféns e a detenção dos assaltantes sem perda de vidas humanas. Sendo a prioridade a sobrevivência e libertação dos reféns, só a polícia tinha os dados para decidir o que fazer. Ao que tudo indica, fez o que podia. Perturbante foi mesmo a reacção popular. Na rua, nos cafés, nos autocarros e nos fóruns de rádios e televisões do dia seguinte não era apenas a natural satisfação com a libertação dos reféns o que dominava as conversas. Era o salivar feliz com o tiro certeiro. Era o sentimento de que com a morte do assaltante se teria feito justiça. Da excitação perante a morte de um assaltante até à desculpabilização da GNR pela morte de um inocente foi um passo. Violando as regras estabelecidas, um militar decidiu disparar sobre um carro de ladrões de material de construção. Matou uma criança de 12 anos. A culpa é dos ladrões? Claro. Serão julgados. Mas espera-se que um agente armado não seja tão irresponsável como eles. Não sabia que a criança lá estava? Pois não. Por isso é que existem regras que têm de ser cumpridas. Porque perante gente irresponsável precisamos de polícias responsáveis. Porque a vida humana está antes de tudo o resto. Porque não vivemos no faroeste."
Daniel Oliveira, Expresso de 16/08/2008
Daniel Oliveira, Expresso de 16/08/2008