Título original: WALL·E
De: Andrew Stanton
Com: Ben Burtt (Voz), Paul Eiding (Voz), Kim Kopf (Voz)
Género: Ani, Com
Classificacao: M/6
EUA, 2008, Cores, 98 min.
"E às vezes chega um daqueles momentos em que um espectador se extasia e abençoa a existência do cinema, que lhe permite transitar do estado amorfo da sua existência para um reino de fantasia onde os sonhos se materializam. Estou a falar do cinema em geral? Mais ou menos. Mas, neste momento, apetece-me dedicar esta prosa panegírica a um filme que tem o nome enigmático de WALL.E, o mais recente produto dos estúdios Pixar, agora aliados à que foi a verdadeira fábrica de sonhos e fantasias no mundo da animação, a companhia fundada por Walt Disney. WALL.E é o filme mais perfeito dos magos da animação digital, que nos deram obras como Toy Story e À Procura de Nemo (o realizador deste último, Andrew Stanton, é o responsável por este novo trabalho). Poderíamos dizer que WALL.E está para a Pixar como O Extra-Terrestre está para outro mago da arte das imagens, Steven Spielberg."
"WALL.E (um acróstico de Waste Allocation Load Lifter Earth-Class) é um pequeno e simpático robô que tem por função tratar do lixo com que a sociedade de consumo encheu o planeta Terra, tornando impossível a vida e forçando os terrestres a partirem para o espaço numa gigantesca nave (a «Axiom») à espera que de novo surjam sinais de vida. Há 700 anos que WALL.E se dedica, qual Sísifo metálico, a essa tarefa. Ao longo desses séculos, algo se transformou, e WALL.E começou a «interessar-se» por outras coisas, fazendo colecção de pequenos e «inúteis» objectos, contemplando velhos filmes e programas musicais. Por companhia apenas tem uma... barata (segundo especialistas, o único insecto a poder sobreviver num mundo poluído e destruído), que o acompanha por todo o lado, como o grilo falante acompanha Pinóquio. À sua colecção acaba de juntar algo de estranho: uma planta, cuja função desconhece. Do espaço surge então uma nave que lança para a superfície da Terra uma sonda oval, sinuosa e elegante, chamada EVA. Para WALL.E é o «coup de foudre»! Finalmente, uma companhia. E tão bonita! Não a vai largar. Mostra-lhe os seus «tesouros», persegue-a até à nave-mãe, quando EVA regressa com a missão cumprida: encontrar provas de que a vida se tornou de novo possível na Terra. Como o HAL de 2001, Odisseia no Espaço, o robô que dirige a «Axiom» «rebela-se» para manter o controlo sobre os humanos, e WALL.E irá salvar a situação e conquistar EVA, com a ajuda de outros robôs considerados obsoletos."
"WALL.E está cheio de referências aos grandes clássicos da ficção científica (atenção à banda sonora, com melodias bem conhecidas dos cinéfilos), como os já citados e O Extra-Terrestre, e a outros menos conhecidos, como O Cosmonauta Perdido, de Douglas Trumbull, e especialmente a uma pequena jóia injustamente esquecida (eis uma boa oportunidade para um lançamento em DVD), Heartbeeps, de Allan Arkush (1981), a história de um par de robôs apaixonados! WALL.E é uma pura maravilha que nos faz acreditar na magia do cinema. E até consegue fazer-nos gostar de... baratas!"
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 15/08/2008