Morte de Um Presidente
Título original: Death of a President
De: Gabriel Range
Com: Hend Ayoub, Becky Ann Baker, Brian Boland
Género: Cri, Dra, Thr
GB, 2006, Cores, 90 min.
Título original: Death of a President
De: Gabriel Range
Com: Hend Ayoub, Becky Ann Baker, Brian Boland
Género: Cri, Dra, Thr
GB, 2006, Cores, 90 min.
"MORTE DE UM PRESIDENTE é uma obra bastante curiosa que não se inscreve num género particular, mas antes joga com o realismo e verosimilhança de outros, de estilo documental. O termo que o define na língua inglesa é «mockumentary», que poderá significar «documentário falso», mas feito segundo as regras dos «autênticos» provocando, geralmente, uma certa perturbação (e podendo enganar os menos informados)."
"Mas este tipo de filme não é feito com a intenção de «enganar». Trata-se, isso sim, de apresentar o que poderia ser um panorama alternativo, um desenvolvimento «paralelo» da História, no fim de contas, a materialização do «e se?...» (que também está na base de um dos livros de José Saramago, História do Cerco de Lisboa) que tantas vezes se coloca perante a resolução de um conflito ou um dilema: «E se tivesse acontecido de outra forma?». No caso de Morte de Um Presidente, a pergunta é: «E se isto tivesse acontecido?»."
"Chamam-se a estas ficções «distopias», e a literatura tem bastantes exemplos, especialmente recentes, tanto na ficção como numa História especulativa (geralmente à volta do triunfo da Alemanha nazi na guerra em que se envolveu). No campo do cinema, a distopia é menos convincente em termos de «ficção», pois a imagem denuncia mais claramente o embuste. Daí que recorra especialmente ao que atrás me referi como «mockumentary», que pode ser em forma de paródia (This Is Spinal Tap, filme de Rob Reiner sobre uma banda de rock fictícia) ou de tom mais sério, como no caso do filme agora estreado, que tem um antecedente ilustre no seu país de origem, o filme que Peter Watkins fez para a televisão em 1965, The War Game, que encena as consequências devastadoras de uma guerra nuclear na Grã-Bretanha. Morte de Um Presidente é um trabalho feito também para a televisão por um especialista neste género de trabalhos. Não é a primeira vez que Gabriel Range trata de temas semelhantes. Em The Day Britain Stopped, de 2003, encena uma greve geral nos transportes que paralisa a Grã-Bretanha; em The Man Who Broke Britain, de 2004, trata de um terrorista que abala o sistema financeiro do país através da Internet."
"Morte de Um Presidente é mais ambicioso, mas, talvez por isso mesmo, mais limitado. Range sai dos limites da Grã-Bretanha para uma distopia americana: o que aconteceria se o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fosse vítima de um atentado. O filme incide mais sobre a «investigação» subsequente e a necessidade de se encontrar rapidamente um «culpado» ou um «bode expiatório». Logo neste campo se revelam os limites do projecto. O filme de Range, mais do que colocar uma hipótese, parece «refazer» o percurso do atentado e processo do assassínio do Presidente Kennedy, agora com outros «dados», em especial a presença da Al Qaeda. Range utiliza a fórmula habitual dos documentários reais, misturando habilmente imagens de documentos reais, outros ficcionadas de forma realista, e as típicas entrevistas a testemunhas e responsáveis. O uso de caras praticamente desconhecidas ajuda a dar credibilidade à situação. "
"É pena o atraso na estreia do filme entre nós, embora coincida (oportunamente) com a campanha eleitoral para a presidência nos Estados Unidos da América. Feito em 2006, com a acção indo de 2007 (o atentado) a 2008 (o fim do inquérito), Morte de Um Presidente perde o efeito especulativo que então possuía. Mas é, mesmo assim, um «documento» curioso."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 27/09/2008
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 27/09/2008