4.10.08

Destruir Depois de Ler
Título original: Burn After Reading
De: Ethan e Joel Coen
Com: George Clooney, Brad Pitt, John Malkovich
Género: Com, Cri
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 96 min.

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"«GIVE ME A REPORT... when it makes sense», diz, às tantas, um incrédulo agente da CIA, já lá para o meio do filme, perante os factos que lhe são narrados. O agente da CIA tem a boca aberta de espanto e a coisa não é para menos. Talvez seja produtivo começar por aqui, pela «falta de sentido» de Destruir Depois de Ler, novo filme dos Coen estreado no Festival de Veneza."

"Que mais poderiam fazer os manos do Minnesota depois do êxito de Este País Não é para Velhos, dos quatro óscares recebidos, isto para não falar das dezenas de outros prémios e nomeações? Que mais poderiam dar (e eles que são revisionistas assumidos) depois de terem tocado em praticamente todos os géneros do cinema clássico ao longo dos últimos vinte anos com uma marca que não deve nada a ninguém? Talvez apostar num bando de idiotas. Num filme sobre a inércia da burocracia. Num imbróglio descartável como uma chiclete, a piscar o olho a Ionesco e Beckett. E, com tudo isso, permitir-nos ver que, entre os planos, na produção, nos panos de fundo, este filme deve ter dado um gozo tremendo a ser feito."

"Há vedetas aos montes em Destruir Depois de Ler (Clooney, Pitt, Malkovich, Tilda Swinton), mas o que é incrível é que temos a ilusão (e é claro que é só uma ilusão...) que todos eles se despiram do vedetismo e leram o argumento na véspera. Parece que estão a fazer «um filme de segunda». Como se os Coen, depois do filme perfeito (Este País Não é para Velhos), tão perfeito que até chateava, quisessem ter voltado à selvajaria descontrolada de Fargo, o tal filme em que os maiores méritos iam para uma agente da polícia grávida, chamada Frances McDormand. Frances também brilha em Destruir Depois de Ler. Entra de surpresa, num golpe genial de «mise-en-scène», numa cena de consultório. A sua personagem, Linda Litzke, quarentona, secretária de um ginásio e frequentadora de «chats» na Net, está doida para fazer uma cirurgia plástica."

"Antes disso, já sabemos que Osbourne (Malkovich), ex-analista da CIA que agora quer escrever as memórias, está a ser enganado pela mulher, Katie (Tilda Swinton), e que esta mantém um caso com outro escroque, Harry (Clooney), também ele frequentador de «chats» nas horas vagas."

"Ainda temos Chad, (Brad Pitt com penteado de «boys band» dos anos 80), colega de Linda no ginásio, que começa a chantagear Osbourne. A chantagem leva-o a uma cena de armário notável que recorda o Veludo Azul de Lynch e acaba em tons tarantinescos de Pulp Fiction. Entretanto, e para a coisa se complicar mais, Harry já seduziu a Linda pela arte da cibernética."

"Nesta farsa à América contemporânea em que todos os actores são protagonistas e nada cola entre as personagens, cada uma terá direito a disparar o seu cartucho, a «fazer o seu cocó» nos passeios de Washington, à sua maneira. Para aqueles lados, o mundo parece mesmo pequenino e a parvoíce é coisa extravagante."



"Não quer ser levada a sério e não é nada fácil filmar isto, ainda por cima com um naipe de actores milionários que aceitam entregar-se ao ridículo, com um desplante incrível, sem temerem as consequências. Talvez seja por isto que gostámos tanto deles."
Francisco Ferreira, Expresso de 04/10/2008