20.10.08

Lou Reed - Berlim
Título original: Lou Reed's Berlin
De: Julian Schnabel
Género: Doc, Mus
Classificação: M/6
EUA/GB, 2008, Cores, 85 min.

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"No início há um casal de drogados, estamos em Berlim, início dos anos 70. O homem, ainda jovem, chama-se Jim. Como ele assume o papel de narrador da história, projecta uma tragédia de cortar à faca na parte feminina do casal, Caroline, sua companheira, presa a uma espiral de loucura. Jim assiste lentamente à queda de Caroline. Esta história, famoso melodrama de janados inspirado em factos verídicos, é a história de Berlin, terceiro álbum a solo de Lou Reed, gravado em 1973. "

"Não se sabe ao certo por que motivo Reed nunca tocou Berlin ao vivo durante os 33 anos que se seguiram. Em 1973, Lou já era um deus depois de toda a história dos Velvet Underground e do êxito colossal de Transformer, matriz do glam rock, famoso pelo seu «wild side». Mas o «wild side» de Berlin é outro, profundamente mais negro e triste. Já não estamos na Nova Iorque efervescente e bissexual da Factory de Warhol, mas numa Berlim cinzenta, não menos viciosa, tão fria quanto a guerra que lhe erguera um muro e a dividira em dois. Entre a festa de Transformer e a decadência de Berlin existe um abismo. Há quem jure que Berlin, para Reed, estava muito mais perto do osso do que as lantejoulas do passado. Há quem diga que as dez canções de Berlin nunca se adequaram a um concerto ao vivo, já que o disco produzido por Bob Ezrin foi concebido como uma ópera-rock. Também há quem defenda que o redondo fracasso comercial do disco nos EUA perturbou Reed, que rapidamente quis mudar de página, apesar das vozes que logo consideraram Berlin uma obra-prima."

"Em Dezembro de 2006, Lou Reed decidiu retirar o disco dos escombros e «levou-o à cena» durante cinco noites, no St. Ann’s Warehouse de Brooklyn. Foi este o filme-concerto que Julian Schnabel registou em 16mm e que agora chega às salas. Schnabel foi também responsável pela decoração: filmou um conjunto de «sketches» que procuram reflectir a vertigem das canções (destaca-se uma Emmanuelle Seigner no papel que se presume ser de Caroline). Esses «sketches», algo abstractos, foram retro-projectados durante os espectáculos. Reed acabaria por aproveitá-los e lançar uma «Tournée Berlin» que pôde ser vista em Portugal, no passado mês de Julho. No filme, Reed está acompanhado de Steve Hunter (guitarrista do álbum de 1973), do vocalista Antony Hegarty, de uma panóplia de outros músicos e instrumentos que não faziam parte da base instrumental do disco (trompas, violinos e violoncelos...) e, surpresa, do Brooklyn Youth Chorus, composto por 35 adolescentes. Não se pode deixar de referir o choque provocado entre estas vozes celestiais e as letras das canções do disco, que são histórias de autodestruição terríveis. Para além das dez canções de Berlin, Reed deixa-nos três encores: uma versão brilhante do seu «Rock Minuet» (do seu álbum Ecstasy, de 2000), um dueto de «Candy Says» com Antony Hegarty (também ele de voz angelical) e «Sweet Jane», a magnífica canção dos Velvet que é outra história de amor sobre outra dupla de revoltados."



"Um «rock’n’roll animal» numa «rock’n’roll band»: não se espere menos do que isto."
Francisco Ferreira, Expresso de 18/10/2008