10.11.08

007 - Quantum of Solace
Título original: 007 - Quantum of Solace
De: Marc Forster
Com: Daniel Craig, Judi Dench, Olga Kurylenko
Género: Acç, Dra
Classificacao: M/12
EUA/GB, 2008, Cores, 105 min.

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"PARECE-ME que é já ponto aceite por todos os «bondistas», que o seu herói com ordem para matar reencontrou, finalmente, a imagem perfeita que marcara a sua aparição em 1962 na pele de Sean Connery. Mas a perfeição possível que se possa achar em Daniel Craig como intérprete da figura do agente 007 não é apenas uma questão física, mas também uma forma de «atitude» que nasce da sua adaptação ao mundo de hoje, bastante longe dos tempos da «guerra fria», entre «bons» (os nossos) e «maus» (os outros), um tempo em que esta dicotomia simplista perdeu qualquer sentido."

"Simultaneamente, como personagem, a figura até aqui mais ou menos explorada do «espião», começou a perder razão de ser, tornando-se mais complexa e problemática. O ponto de viragem pode situar-se em 2002 com a aparição da figura de Jason Bourne em The Bourne Identity, interpretada por Matt Damon, este também, um agente secreto (da CIA) com «ordem para matar». James Bond não poderia, agora, voltar à velha fórmula. O seu último filme segundo as normas clássicas da «franchise» é desse mesmo ano: 007 — Morre Noutro Dia, despedida de Pierce Brosnan. Adeus também às engenhocas e a Q, o homem delas."

"Casino Royale, a estreia de Craig como Bond data de 2006 e apresenta já as mudanças resultantes dessas influências, em particular o estilo de montagem moderno que faz acelerar a acção patente no segundo Bourne, Supremacia dirigido por Paul Greengrass. É evidente que este estilo, levado à perfeição por Greengrass em Ultimato influenciou toda a produção de Quantum of Solace e inclusive o trabalho de Marc Forster (autor de filmes como O Menino de Cabul e À Procura da Terra do Nunca), uma inesperada (mas óptima) substituição de Martin Campbell que dirigira Casino Royale."

"Pessoalmente, considero Quantum of Solace o melhor Bond depois de Ordem para Matar e Goldfinger. Há uma cena que «homenageia» este filme: a morte de uma «Bond Girl» que copia a famosa cena da rapariga «dourada» de Goldfinger, sendo o ouro substituído por petróleo, que, aparentemente, está na base do conflito (quando, no fim de contas, a riqueza natural em disputa é, inesperadamente, mas não muito, outra, como verão). Outra aproximação da nova saga de Bond com a de Bourne tem a ver com a construção narrativa. Apesar de se poder ver como uma aventura autónoma, Quantum of Solace surge como uma continuação imediata de Casino Royale. A acção, aliás, começa praticamente vinte minutos depois da cena de conclusão do anterior. Isto não obriga ao visionamento do primeiro filme, mas sempre é aconselhável. Tal fórmula, no fim de contas, tem já em conta a estratégia do mercado de DVD para a futura venda. Esse começo expõe também tudo o que de novo tem surgido no campo do «thriller» de espionagem, quer no cinema quer na televisão. Tal como nos filmes de Bourne, como na série de televisão 24, também a organização de Bond (o clássico MI6) está infiltrada pelo inimigo, que quase abate M (a insubstituível Judi Dench), e Bond será, também, durante algum tempo, colocado «fora-da-lei», enquanto prossegue a sua busca dos assassinos de Vesper."



"Pelo que vimos, James Bond tem mais vidas que um gato e promete continuar as suas proezas por muito tempo. E ainda bem."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 08/11/2008