26.1.09

Frost / Nixon
Título original: Frost / Nixon
De: Ron Howard
Com: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon
Género: Drama, Histórico
Classificação: M/12
EUA/FRA/GB, 2008, Cores, 122 min.

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"ENTRE DUAS adaptações de best-sellers de Dan Brown, “O Código Da Vinci” e “Anjos e Demónios”, Ron Howard dirigiu aquele que até à data podemos considerar o seu melhor filme, “Frost/Nixon”. É evidente que a qualidade deste trabalho deve muito a um argumento assinado por Peter Morgan, responsável por alguns dos mais inteligentes trabalhos de escrita para o cinema dos últimos anos, “O Último Rei da Escócia” e “A Rainha”, todos à volta de personagens ou acontecimentos que estiveram na ribalta nas últimas décadas, respectivamente o ditador Idi Amin Dada e a Rainha Isabel II de Inglaterra enfrentando a crise provocada pela morte da princesa Diana. Em “Frost/Nixon”, Morgan encena as célebres entrevistas que o apresentador David Frost fez ao ex-presidente Richard Nixon, cerca de dois anos após a sua perda do mandato presidencial por impeachment."

"Poder-se-ia dizer que o mérito de Howard se fica por aí, pela forma como, escrupulosamente, acompanha o argumento de Morgan, que, por sua vez, adapta a peça que escrevera e fora levada à cena em Londres e na Broadway. Mas parece-me que isso seria, de certo modo, injusto. A força deste filme deve-se também ao trabalho do realizador, que soube evitar os escolhos típicos nas adaptações teatrais para o cinema. E “Frost/Nixon” tinha alguns que poderiam afectar o trabalho de transposição, a saber, o facto de decorrer, na sua maior parte, num espaço fechado e, principalmente, por tudo se centrar à volta do diálogo/confronto entre dois homens. Poderia, por outro lado, acabar por se transformar numa espécie de “docu-drama” televisivo. Ora Howard consegue fazer das cenas da entrevista um verdadeiro jogo dialéctico entre a imagem e a palavra que leva o seu filme para o lado de outro notável documento histórico que foi “Boa Noite e Boa Sorte”, de George Clooney."



"Ron Howard foi buscar ao palco os principais intérpretes da peça para a versão cinematográfica: Frank Langella (com uma garantida nomeação para o Óscar) e Michael Sheen (que foi o ex-primeiro-ministro Blair em “A Rainha”), que dão às personagens que interpretam, respectivamente Nixon e David Frost, uma grande verosimilhança psicológica, mesmo com as liberdades criativas que o filme toma, onde se destaca aquela que é, talvez, a melhor sequência, a conversa telefónica entre os dois nas vésperas da última entrevista. Se historicamente nunca teve lugar, a sua função dramática na narrativa é fundamental (de certo modo é como o encontro apócrifo de Ed Wood com Orson Welles, imaginado por Tim Burton no seu filme sobre o primeiro), porque aí se revelam as brechas por onde Frost vai fazer a sua última investida e levar Nixon “às cordas”. Porque, de facto, o confronto é quase um combate de boxe, com Nixon ganhando aos pontos os três primeiros assaltos, para acabar por ser posto KO no último, em que viria a reconhecer os seus erros, o que se recusara a fazer desde a saída da presidência, devido ao perdão concedido pelo seu sucessor, Gerald Ford. Tal como no debate em que enfrentara Kennedy na corrida à presidência, é de novo um grande plano da televisão que dá conta da sua derrota. Ou como Nixon nunca se deu bem com a televisão."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 24/01/2009