10.1.09

A Troca
Título original: Changeling
De: Clint Eastwood
Com: Angelina Jolie, Gattlin Griffith, Michelle Martin, John Malkovich
Género: Drama
Classificacao: M/12
EUA, 2008, Cores, 141 min.

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"CLINT EASTWOOD, a quem a Cinemateca Portuguesa está a dedicar uma retrospectiva que se prolonga até Março, é o ultimo grande realizador clássico americano, continuador da grande tradição narrativa de um Raoul Walsh. Aliás, será este, talvez, quem verdadeiramente paira sobre a obra do autor de “O Rebelde do Kansas”, através das influências de Don Siegel e Sergio Leone, com quem Eastwood trabalhou várias vezes."

"Se prefiro falar de Walsh em vez de outros mestres que geralmente se associam ao autor de “A Troca”, como John Ford e Howard Hawks, é porque a evolução da sua carreira segue um caminho que tende para uma curiosa confluência. Se os seus filmes mostram sempre a mesma energia e dinamismo, na fase final começa a manifestar-se um acentuado pessimismo e negrume, pelo menos em alguns trabalhos que coexistem com outros de perfil mais tradicional. No caso de Walsh, basta lembrar os últimos filmes de guerra (“Os Nus e os Mortos” e “Marines, Let’s Go” em comparação com “Objectivo Burma”), no de Eastwood se ficarmos também pelo campo da guerra recorde-se o recente díptico sobre Iwo Jima em comparação com outras obras mais “jovens”: “Firefox” ou “O Sargento de Ferro”. No caso de Eastwood, esse negrume é ainda mais evidente, pois tem vindo a marcar todos os filmes que dirigiu desde “Mystic River”. É este filme que marca essa “viragem” e é, aliás, o que está mais perto de “A Troca”."

"“A Troca” inspira-se num caso real, sucedido em Los Angeles, Califórnia, em 1928. Christine Collins (Angelina Jolie, numa soberba composição que já lhe valeu uma nomeação para os Globos de Ouro e decerto vai merecer uma nomeação para o Óscar) é uma operadora dos telefones, vivendo com dificuldades mas feliz e só com o filho, um garoto de 9 anos. Um dia em que foi forçada a ficar mais horas no trabalho, ao regressar a casa, dá pela sua falta. A polícia só 24 horas depois inicia a investigação, sem resultados. Finalmente, meses após o desaparecimento, a polícia anuncia ter encontrado a criança. Porém, quando a entrega à mãe, diante da imprensa, Christine afirma que aquele não é o seu filho. Começa então a odisseia de uma mãe desesperada contra uma polícia incompetente e corrupta que controla a cidade com mão de ferro e que, para defesa dos seus privilégios e poder, não hesitará em caluniar a mulher e atirá-la para um hospício, onde irá encontrar outras mulheres nas mesmas condições e que, nalgum momento das suas vidas, entraram em conflito com a polícia. Nesse combate, Christine irá ter o apoio de um pregador (John Malkovich) que utiliza a rádio para a sua campanha e luta contra a corrupção policial. E também de um detective que acaba por esbarrar com uma inesperada surpresa: um serial killer que matava crianças selvaticamente."



"Clint Eastwood dirige o filme de forma perfeita, sem uma falha de ritmo ou emoção, e cria uma atmosfera estranha com a prodigiosa fotografia de Tom Stern. E, mais uma vez, revela-se um soberbo director de mulheres, tirando de Angelina Jolie uma das mais fortes interpretações da sua carreira. Uma obra-prima a não perder."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 10/01/2009