A Valsa com Bashir
Título original: Waltz with Bashir
De: Ari Folman -
Com: Ron Ben-Yishai (Voz), Ronny Dayag (Voz), Ari Folman (Voz)
Género: Animação, Drama
Classificacao: M/12
ALE/EUA/FRA/ISR, 2008, Cores, 90 min.
Título original: Waltz with Bashir
De: Ari Folman -
Com: Ron Ben-Yishai (Voz), Ronny Dayag (Voz), Ari Folman (Voz)
Género: Animação, Drama
Classificacao: M/12
ALE/EUA/FRA/ISR, 2008, Cores, 90 min.
"EM Valsa com Bashir, o israelita Ari Folman tenta recordar-se do tempo em que cumpriu o serviço militar, mas a memória do seu tempo de soldado evaporou-se misteriosamente. Ari estava em Beirute, de metralhadora na mão, nesse ano de 1982 em que o libanês Bashir Gemayel, ligado à milícia dos cristãos «falangistas», foi assassinado após ser eleito Presidente do país, desencadeando a invasão israelita do território. "
"Dias depois, a noite de terror: a mesma milícia chacinava centenas de palestinianos civis nos massacres de Sabra e Chatila. Mas Ari de quase nada se recorda. Vai por isso procurar alguns dos seus ex-companheiros. De um testemunho a outro, a memória esquecida começa a voltar à superfície. E à medida que o exercício catártico progride, é para o horror de Sabra e Chatila que o filme nos conduz. "
"Só que Valsa com Bashir não vai, nem pode, reproduzir a realidade da experiência de guerra, porque esta, e compreendemo-lo pelos depoimentos, é uma realidade irreproduzível. O espaço e o tempo da experiência selvagem, esbatidos pela amnésia a 20 anos de distância, são uma abstracção, perderam a escala. São como aquela estranha «valsa» em que um soldado israelita, na frente de combate em Beirute, descarrega a metralhadora em mil direcções, num acto de loucura suicida, perante o póster gigante de Bashir Gemayel. "
"Há um detalhe com fulcral importância: passa-se na terceira entrevista de Ari a um ex-colega, Carmi Cna’an. Ari pergunta-lhe: «Posso desenhar-te?» Carmi responde: «Podes desenhar, mas não filmes.» Já o dissemos quando Valsa com Bashir estreou em Cannes: sem o poder do decalque da realidade que constitui a natureza das suas imagens, esta animação tão ousada a distribuir os efeitos do documentário e da ficção seria certamente um filme banal. Talvez mesmo moral e eticamente duvidoso."
"Ari sabe que tem, pelo menos, dois problemas enormes nas mãos: não pode forjar um ponto de vista, porque este é o seu, é falado em hebreu e coincide com os crimes de Israel. Outro problema: que imagem pode um filme antimilitarista (que imagem pode o cinema) contrapor às imagens reais de arquivo dos mortos de Sabra e Chatila, essas que nos aguardam no final e são de terror absoluto?"
"É pelo desenho que Ari admite uma distância e um efeito de estranheza que não tombam na facilidade de um testemunho directo e consciente, pela simples razão de que esse testemunho jamais seria justo. Valsa com Bashir está muito mais próximo do onirismo e da loucura da guerra de Apocalipse Now, de Coppola, ou do caos de informação que qualquer guerra produz (onde estão a verdade e a mentira?), como Brian De Palma o demonstrou em Redacted, do que de qualquer outro tipo de juízos de valor. É ainda pelo desenho que Valsa com Bashir faz da procura da memória o seu mais nobre objectivo, ganhando — coisa raríssima num filme de animação (tão anti-Disney) — o valor de um documento precioso."
Francisco Ferreira, Expresso de 03/01/2009
Francisco Ferreira, Expresso de 03/01/2009