17.2.09

O Casamento de Rachel
Título original: Rachel Getting Married
De: Jonathan Demme
Com: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Debra Winger
Género: Drama
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 114 min.

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"JONATHAN DEMME talvez seja uma das personagens mais singulares do cinema americano. Se ele é bem conhecido como autor de filmes de ficção (como “O Silêncio dos Inocentes”, por exemplo), o seu verdadeiro interesse parece residir no campo do documentário. Longos hiatos separam os seus filmes da primeira espécie, que são ocupados por uma série de notáveis documentários sobre gente política e sobre uma das suas paixões — a música (Neil Young, Bruce Springsteen, Bob Marley, etc.). De certo modo, poderia dizer-se que a ficção, para ele, representa uma espécie de ‘repouso’, assim como uma forma de ‘balanço’ das fórmulas que desenvolve e aplica nos outros filmes. “O Casamento de Rachel” é um bom exemplo, como já o era, quando se estreou, o seu filme anterior, que data de 2004: “O Candidato da Verdade”."

"“O Casamento de Rachel” une, de uma forma perfeita, os dois géneros, ficção e documentário, tanto naquilo que conta como na forma como o faz. Isto é, trata-se de uma abordagem realista dos acontecimentos ficcionados, tratada como se fosse uma reportagem real. O acontecimento é um casamento e os dias que o antecedem. E se, como numa reportagem, a noiva, Rachel (Rosemarie DeWitt), ocupa o centro da objectiva, na ficção dramática, esse centro desvia-se para Kym (Anne Hathaway), a irmã da noiva. Com ela começa o filme, com ela acaba. Deste modo, “O Casamento de Rachel”, de ‘reportagem’ sobre a festa, torna-se também num drama pungente sobre a recepção feita a Kym pela família. É que Kym é uma ex-drogada sujeita ainda a tratamento numa clínica, de onde é autorizada a sair num fim-de-semana a fim de assistir ao casamento da irmã. A recepção que a família (irmã, pai e madrasta) lhe faz é uma mistura de sentimentos contraditórios, que vão da vigilância temerosa por parte do pai, sempre atento a uma possível recaída da filha, ‘sufocando-a’, deste modo, com a sua atenção e desvelo, ao olhar algo cínico e descrente de Rachel, vítima das loucuras da irmã. Kym verifica que o prometido lugar de dama de honor lhe fora retirado, o que provoca a primeira discussão entre elas, levando a primeira, numa manifestação de cansaço, numa luta que sempre perdeu, a devolver-lhe o lugar desejado. O estado nervoso de Kym irá provocar ainda outros problemas, que acabam por se misturar com a sucessão dos rituais que antecedem a festa."

"O estilo de Demme revela-se em toda a sua força na forma como ele liga os acontecimentos dramáticos com o tratamento que faz do casamento, os primeiros filmados de forma clássica, como um típico melodrama social, e o segundo numa forma ‘moderna’, com a câmara na mão, acompanhando os acontecimentos, passando de uma personagem principal para uma secundária e vice-versa, à maneira de Cassavetes e Scorsese."



"E depois temos a soberba direcção de actores, onde todos, do mais secundário aos principais, têm o ar certo e dão a medida justa. Mas convém destacar o trio de actrizes: Debra Winger (a mãe), Rosemarie DeWitt (Rachel) e Anne Hathaway (Kym), esta já coleccionando prémios sobre prémios e uma forte candidata aos Óscares do próximo dia 22."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 15/02/2009