24.3.09

Che - O Argentino
Título original: The Argentine - Che: Part One
De: Steven Soderbergh
Com: Benicio Del Toro, Julia Ormond, Pablo Guevara
Género: Biografia, Drama
Classificação: M/12
ESP/EUA/FRA, 2009, Cores, 133 min.
ACTUALIZADO
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"LOGO APÓS a sua captura e assassínio em Outubro de 1967, a figura de Ernesto ‘Che’ Guevara transformada em ícone revolucionário pela juventude de Maio de 1968 chamou de imediato a atenção do cinema procurando capitalizar o interesse pela sua imagem e mito. Logo em 1968 Francisco Rabal foi o Che num medíocre filme italiano de Paolo Heusch e, em 1969, Richard Fleischer dirige uma falhada e mutilada incursão com Omar Sharif no Che e Jack Palance no papel de Fidel Castro (!). "

"Recentemente a sua figura voltou a despertar interesse mas desta vez a partir de fontes mais fidedignas: os diversos diários de Ernesto Guevara. Primeiro os “Diários de Che Guevara”, segundo os seus “Diários de Motocicleta”, filmados por Walter Salles em 2004 e agora as “As Reminiscências da Guerra Revolucionária Cubana” e “Diários da Bolívia” que constituem as fontes para o longo e notável épico dirigido por Steven Soderbergh com uma duração total de 250 minutos e dividido em duas partes, “O Argentino” e “Guerrilha”. "

"Diga-se desde já que apesar de poderem ser vistas de forma independente uma da outra, o filme só adquire o seu mais autêntico sentido na visão das duas. Porque, se uma não contraria a outra, o conjunto dá uma outra percepção da figura, do seu sentido e singular destino, numa forma dialéctica, uma espécie de acção e reacção que lembra a que se gerava entre as duas partes do “Ivan o Terrível” de Eisenstein. "

"Se “O Argentino” é o triunfo da revolução na sua ideia mais ‘pura’, “Guerrilha”, a segunda parte (a estrear em Abril) representa o seu impasse, onde as ideias do revolucionário se mostram impotentes face a um mundo real onde elas não são entendidas. Neste caso, o idealista ‘puro’ acaba por se tornar o pior inimigo de si mesmo e das ‘ideias’, e conduzir todo o processo ao fracasso."

"Na primeira parte o filme adquire um certo fôlego épico que alcança o seu momento mais sugestivo na conquista da última cidade antes da entrada em Havana, nos combates rua a rua. Soderbergh toma como ponto de partida o discurso do Che na Assembleia Geral das Nações Unidas para, a partir dele, fazer a ‘revisão’ do que foi o percurso do “Argentino” desde o seu encontro com Fidel Castro, a quem se juntaria a bordo do “Granma” no desastroso desembarque em Cuba que levaria o grupo de revolucionários sobrevivente à Sierra Maestra para dar início ao combate contra a ditadura de Batista, numa narrativa de carácter factual: o que interessa são os actos e a forma como estes se reflectem nas populações (será essa impossível coordenação que liquida a guerrilha na Bolívia, na segunda parte)."

"Soderbergh que, com o nome de Peter Andrews, é também o autor da fotografia, dirige esta primeira parte como uma espécie de ‘reportagem’, com a câmara colada à personagem do Che, como se víssemos os acontecimentos com os seus olhos, a quem Benicio Del Toro (também produtor do filme) dá uma impressionante realidade física (o seu trabalho valeu-lhe o prémio de melhor interpretação no Festival de Cannes do ano passado). Sugestiva também é a composição de Demián Bichir numa fiel recriação de físico, gestos e voz de Fidel Castro."



"O melhor filme sobre a revolução cubana (esta primeira parte de “Che”) é, curiosamente (ou talvez não?) não cubano."
Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 21/03/2009

Jorge Leitão Ramos, Expresso de 28/03/2009