Título original: Gran Torino
De: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Geraldine Hughes, John Carroll Lynch
Género: Drama, Thriller
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 116 min.
"CEM ANOS que viva — e esperemos que sim —, Clint Eastwood nunca poderá tirar a máscara que afivelou ao rosto quando se tornou uma celebridade, a persona a que deu corpo, primeiro como o homem sem nome e de fala lacónica dos filmes de Sergio Leone (personagem que, mesmo se matizada, ele carregou consigo durante muitos e bons filmes), depois como o inspector Harry Callahan, ‘Dirty’ Harry para os inimigos, que amigos era coisa que o nosso homem não fazia com facilidade. Que persona é essa? Dureza de modos e desencanto na alma, misoginia q.b. (veja-se o que fazia às mulheres da cidade dos homens poltrões em “O Pistoleiro do Diabo”), uma sensação vívida de que o caos está aí, já que as instituições deixaram de funcionar como deviam, a polícia respeita mais os direitos dos criminosos que os das vítimas e os políticos estão embebidos em demagogia e corrupção. Como ele dizia, quase no princípio de “Impacto Súbito”, o único dos filmes de ‘Dirty’ Harry que realizou, “procuramos aguentar o dique enquanto ele se desmorona”. Por estas e por outras, Pauline Kael chamou-lhe “fascista”, o que simplificava demasiado as coisas, mas não andava longe da verdade. Quer dizer: quando, ainda há poucos anos, Clint Eastwood em pessoa avisou Michael Moore que, se lhe aparecesse à porta com uma câmara na mão — como fizera com Charlton Heston —, seria recebido a tiro, as pessoas acreditaram..."
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"Sabedoria de velhice? Também. De certo modo, “Gran Torino” é como o magnífico carro que está no título: qualquer coisa fora de moda, mas que se assume imponente, num e noutro há um valor seguro, algo em que se pode confiar. Por isso, o final do filme — surpresa que é delito grave revelar — nos toca tão profundamente. Afinal de contas, ‘Dirty’ Harry ou o homem sem nome não acreditam apenas em si mesmos. Eles acreditam na amizade e na América."
Jorge Leitão Ramos, Expresso de 14/03/2009
Jorge Leitão Ramos, Expresso de 14/03/2009