11.3.09

Patti Smith: Dream of Life
Título original: Patti Smith: Dream of Life
De: Steven Sebring
Género: Documentário
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 109 min.

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"HÁ FILMES que são grandes aventuras no tempo, jamais poderão repetir-se. Estreado no Festival de Cinema de Berlim 2008, “Patti Smith: Dream of Life” é um destes casos — e chamem-lhe tudo menos um documentário vulgar. Aliás, segundo o realizador Steven Sebring, com quem falámos há umas semanas por telefone, isto não é sequer um documentário (“...não gosto muito dessa palavra”, confessou): trata-se antes de uma “experiência poética visual em que, por acaso, eu encontrei uma estrela”. "

"A estrela, essa, deixa marcas na Terra desde 1975, esse ano pobre de rock em que o álbum de estreia de Patti, “Horses”, brilhou como nenhum outro, descobrindo na cantora uma personalidade e um espírito únicos. Estamos perante toda uma história que parece impossível de ser contada em duas horas de filme, da rapariga escanzelada de Chicago apaixonada por Rimbaud e pelas protest songs, tão andrógina como o fora Dylan, até à formação de um dos maiores ícones do rock do século XX. Pelo meio, há a hóspede do mítico Chelsea Hotel na Nova Iorque que a adoptou, a activista política amiga de Ginsberg e de Burroughs ou a mulher ainda apaixonada pelo ex-guitarrista dos MC5, Fred ‘Sonic’ Smith, pai dos seus filhos, falecido em 1994. E há ainda, para nós, momentos únicos a recordar, como os daquela conferência de imprensa da capital alemã em que a ‘ madrinha do punk’ pediu uma guitarra e cantou uma canção para os jornalistas. Na manhã seguinte, foi ao leste de Berlim visitar o túmulo de Brecht."

"Quem é Patti Smith? A resposta de Sebring começa em 1995, numa altura em que o fotógrafo conhece a cantora numa sessão de fotos. Algumas semanas depois, volta a encontrá-la num concerto em Nova Iorque (“Patti Smith: Dream of Life” é também um grande filme sobre a ‘big apple’): revelação! Começa a filmá-la, bate-lhe timidamente à porta da sua vida, acaba por entrar-lhe em casa, conhece os seus pais, os seus amigos, os músicos que a acompanham nas tournées, dos EUA ao Japão, da Nova Zelândia a Israel... A ‘acção documental’ de Sebring (chamemos-lhe assim), coisa rara para um fotógrafo que nunca pôs os pés numa escola de cinema, acabaria por durar 11 longos anos. Estamos perante um filme que, pela sua própria experiência de produção (ou de autoprodução, já que foram os dólares de Sebring que o pagaram), se transformou num laço de afectos, filmado em 16mm e a preto e branco, por vezes em situações completamente amadoras e à míngua de luz, como um home movie que podia estar ainda a ser feito. "



"Em 2007, Sebring passa finalmente para a mesa de montagem. ‘Despacha’ os dados biográficos de Patti nos primeiros cinco minutos de filme (e é admirável como o faz, afastando-se de qualquer documentário convencional), começa a escolher pedaços soltos das toneladas de material que tem nas mãos e mistura-os eventualmente com algum footage, e até com filmes do guru do cinema experimental, Jonas Mekas. Acaba por tratar as imagens como um fluxo abstracto de paisagens, transcrições, reflexões e trabalha-as com uma banda-som fragmentada, tão atenta ao quotidiano da cantora real como à sua figura nostálgica e fantasmagórica. À sua medida, Sebring constrói, também ele, um filme experimental que vai apostar no registo de parcelas fugidias da existência e da identidade de Patti Smith, definindo a sua maneira de estar e de ser. Dificilmente poderia pedir-se melhor homenagem."
Francisco Ferreira, Expresso de 07/03/2009