20.4.09

Almoço de 15 de Agosto
Título original: Pranzo di Ferragosto
De: Gianni Di Gregorio
Com: Valeria De Franciscis, Marina Cacciotti
Género: Drama
Classificação: M/12
ITA, 2008, Cores, 75 min.

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"O TEMPO é o feriado central do Verão transalpino — o Ferragosto —, o lugar é um apartamento envelhecido no Trastevere romano, praticamente deserto no cume da época estival. A história é a de Giovanni, um homem já com bastos cabelos brancos e que vive, solteirão, a tomar conta da mãe, entretido num alcoolismo brando de adolescente tardo e terno. E vagamente irresponsável. Vivendo não se sabe bem de quê, já que o nosso homem não parece ter profissão fora de casa, Giovanni e a mãe levam um quotidiano precário onde o facto de há três anos não pagarem a conta da electricidade é apenas um dos aspectos mais notórios."

"Por isso quando o administrador do condomínio se apresenta para fazer várias cobranças incobráveis e propõe depositar ali em casa, por poucos dias, a mãe, em troca da anulação de parte das dívidas e algum dinheiro fresco, Giovanni acaba por aceitar. Como aceita que ela traga uma amiga e, depois, acede ao que o médico da família lhe pede em desespero de causa, ele está de banco, a família na praia — poderia deixar ali a mãe só por um dia?"

"“Almoço de 15 de Agosto” é uma comédia porque as velhotas vão-se comportar quase como adolescentes birrentas e conflituais, muito senhoras do seu nariz, em qualquer caso. E porque Giovanni tem que lidar com isso — e com a comida e a vigilância do colesterol (ou será das alergias?) e os comprimidos para isto e mais aquilo, com horários definidos —, lidar com pinças porque é preciso manter a paz, seja lá como for. Mas é também um drama — e cruel — porque aquilo de que o filme fala é da imprestabilidade dos velhos que os mais novos tentam desesperadamente despejar num lugar qualquer que os guarde."

"Aquilo de que fala tem um nome — solidão — e afecto quase se não vê. Mas vê-se o poder do dinheiro (a mãe do administrado do condomínio bem o usa) e como Giovanni a ele se inclina. “Almoço de 15 de Agosto” poderá parecer um filminho simpático e divertido, mas quem não sentir um travo na boca é porque ou anda muito distraído ou perdeu o sabor."

"Gianni Di Gregorio é um argumentista relativamente obscuro, há uma década a trabalhar como assistente de realização de Matteo Garrone, foi um dos (muitos) que escreveram “Gomorra”. Garrone produziu-lhe agora este “Almoço de 15 de Agosto” com que Gianni Di Gregorio se estreia como autor inteiro (realização, argumento, papel principal) dirigindo um conjunto de anciãs sem nenhuma experiência de representação. Espantosamente, dado o que elas fazem na fita, mas também com alguma crueza, já que grandes planos sobre rostos devastados pelo tempo não são exactamente amabilidades cinematográficas."



"O cineasta tem, todavia, futuro possível, já que esta sua opera prima não se saiu nada mal. O filme esteve na Semana da Crítica do Festival de Veneza do ano passado e foi um pequeno acontecimento no ano em que “O Wrestler” foi o melhor filme. Verdade que os jornalistas italianos andavam a precisar de uma revelação que os animasse. Ganhou três galardões, entre os quais o prémio Luigi De Laurentiis destinado às primeiras obras. Depois obteve um sucesso de estima nas salas (59º no box office italiano da temporada 2008/09, ainda em curso, com pouco mais de 2 milhões de euros nas bilheteiras) e está a fazer um animador percurso internacional."
Jorge Leitão Ramos, Expresso 18/04/2009