Título original: Coco Avant Chanel
De: Anne Fontaine
Com: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola
Género: Drama, Romance
Classificacao: M/12
FRA, 2009, Cores, 105 min.
"O CINEMA do hexágono anda a explorar novo filão num género biográfico escrito no feminino desde que “La Môme”, sobre Edith Piaf, chegou aos Óscares e triunfou. Desta vez, a ‘homenageada’ é a chiquérrima Coco Chanel, que, ao contrário do que talvez muitos pensem, teve infância pouco chique."
"E, tal como “La Môme”, o novo filme de Anne Fontaine, também ele um drama de época recheado de valores de produção, interessa-se mais pela vida do que pela obra, mais pelo que foi privado do que público, procurando mimetizar a figura histórica que lança no seu título. Fá-lo de forma um pouco atabalhoada e sem grande mistério. Digamos, só para começar, que “Coco Avant Chanel” é o oposto de “O Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder. Lida mal com a sua lenda. Ou melhor: aquilo que em Chanel é lenda pouco ou nada interessa ao filme. O que lhe interessa está E Anne Fontaine lá prefere ‘imprimir os factos’, invertendo a velha de John Ford. Porquê? Talvez aquele seja ditado pelas leis do mercado."
"Já que falámos de valores de produção com tudo no sítio e que arregalam o olho, vale a pena sublinhar o orçamento deste “Coco Avant Chanel”: 20 milhões de euros. A soma é colossal para um filme europeu falado em francês. É praticamente o dobro do que custou um dos maiores êxitos da cinematografia, “O Fabuloso Destino de Amélie”. E as intenções não enganam: no papel principal está a actriz que a Amélie deu corpo, Audrey Tautou. Só que “O Fabuloso Destino de Amélie”, que foi mesmo fabuloso há oito anos, pagou-se vezes sem conta, coisa que duvidamos que aconteça agora. Num filme tão descaradamente ambicioso no terreno comercial, é óbvio que a Chanel adulta, genial, amiga de Stravinski e de Cocteau, a Chanel luxuosa que se instalou nos anos 20 na Place Vendôme, ou seja, a ‘Chanel inacessível’, pouco vende. O que vende são os mexericos. E um passado menos aveludado."
"Daí que o filme prefira o tempo em que Coco ainda era Gabrielle. Uma miúda de infância pobre, a querer triunfar no cabaré e que só chegará à alta-costura, talento à parte, pela generosidade dos seus amantes ricos, primeiro Étienne Balsan (um Benoît Poelvoorde a disfarçar o sotaque belga), depois Arthur ‘Boy’ Capel (um Alessandro Nivola a disfarçar o sotaque americano). E é pena que tudo acabe, afinal, no momento em que a parte mais interessante da vida de Chanel começa, na alvorada de uma I Guerra Mundial que separaria a velha da nova Europa, a Europa em que o da estilista definiria o gosto do século XX. É tudo uma questão de gosto, claro. “Coco Avant Chanel” prefere tratar a ‘clássico’ o que foi profundamente moderno. Não engana ninguém naqueles tons amarelados. Não faz a mais pálida ideia do que é a mise-en-scène."
"O que nos resta? Uma Audrey Tautou com queda para a androginia, surpreendentemente calculista e sedutora, como nunca se viu. Uma actriz que estudou mais sobre a figura de Chanel do que o papel lhe exigiu." Francisco Ferreira, Expresso de 27/06/2009