Sinédoque, Nova Iorque
Título original: Synecdoche, New York
De: Charlie Kaufman
Argumento: Charlie Kaufman
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Sadie Goldstein
Género: Comédia Dramática
Classificacao: M/12
EUA, 2008, Cores, 124 min.
Título original: Synecdoche, New York
De: Charlie Kaufman
Argumento: Charlie Kaufman
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Sadie Goldstein
Género: Comédia Dramática
Classificacao: M/12
EUA, 2008, Cores, 124 min.
"PARA O ESPECTADOR ou cinéfilo distraído ou quem não esteja na disposição de ir consultar um dicionário, um esclarecimento: sinédoque é uma figura de estilo literária em que se toma a parte pelo todo, ou vice-versa, o género pela espécie, etc. Com esta informação poderão compreender e decifrar aquele que, à partida, aparece como o mais estranho e bizarro filme do ano e que marca a estreia na realização de Charlie Kaufman, um dos argumentistas mais originais que surgiu em Hollywood na última década."
"Aliás, quem conhece os filmes que ele escreveu para outros realizadores (“Queres Ser John Malkovich?” e “Inadaptado”, de Spike Jonze, “Confissões de Uma Mente Perigosa”, de George Clooney, e “O Despertar da Mente”, de Michel Gondry) tem meio caminho andado para entrar no singular e complexo mundo mental de Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), personagem central de “Sinédoque, Nova Iorque”. Em todos estes filmes estamos face a uma mente que vai construindo um mundo muito próprio, que reproduz (ou quer reproduzir) o real a uma escala pessoal. De certo modo, todos eles representam desafios ao espectador, forçado, também ele, a fazer a sua própria construção mental com os elementos que o autor lhe dá. E o ‘autor’, neste caso, é tanto Kaufman como Cotard, que, no fim de contas, poderão ser uma e a mesma pessoa (jogo em que os seus argumentos são férteis), dado que “Sinédoque, Nova Iorque” parece ser o mais autobiográfico dos textos de Kaufman."
"O processo de Kaufman neste filme não deixa de evocar o de Lars Von Trier em “Dogville”, pelo menos na ideia da redução do real a uma abstracção: a cidade de Dogville reduzida a uma série de linhas desenhadas no soalho de um gigantesco palco, a cidade de Nova Iorque ‘reproduzida’ no interior de um armazém (e que se ‘transforma’ segundo a vontade de Cotard, como quando manda levantar a parede que oculta os apartamentos de um edifício)."
"Mas enquanto o jogo cénico era evidente no filme de Trier, no de Kaufman o autor procura uma caução realista. Não é por acaso que o filme começa com Cotard dirigindo a encenação de “Morte de Um Caixeiro-Viajante”, a peça de Arthur Miller, que surge como uma espécie de modelo para o projecto a que Cotard pretende dedicar-se a seguir: ser ele próprio uma espécie de Loman (a personagem central da peça de Miller) na recriação do seu próprio mundo e vida, com a vantagem de a poder acompanhar à distância, fazendo-se representar por outro (a representação deste acaba por se tornar mais real que a realidade, o que traz uma nova perturbação ao mundo mental de Cotard), e ‘acompanhando-se’ nos seus dramas passados (o abandono da mulher) e presentes (a doença). O problema, para o espectador, é que o tempo é outra componente do argumento manobrada pelo autor de forma aleatória, com passado e presente confundindo-se, assim como o real (?) e o imaginário."
"Toda esta riqueza de significantes não será, evidentemente, benéfica para a carreira comercial do filme, num tempo em que a maioria das películas são de uma indigência intelectual confrangedora. Mas vale a pena aceitar o desafio que ele representa, com a profusão de pistas que oferece." Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 22/0872009