Título original: The Hurt Locker
De: Kathryn Bigelow
Com: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes
Género: Guerra, Thriller
Classificacao: M/16
EUA, 2008, Cores, 131 min.
"DESDE “TRÊS REIS” de David Owen Russell, feito em 1999 que a guerra no Iraque tem sido objecto de atenção cuidada pelos cineastas de Hollywood, quer em forma de documentário, quer de ficção. Mas entre essa já vasta produção será difícil encontrar uma obra com a força e a dureza do mais recente trabalho de uma realizadora conhecida pela forma como se aproxima do universo masculino. Em “Estado de Guerra” não temos questões políticas, morais ou éticas. Temos o drama em estado bruto e puro. Temos o relato de uma série de acções marcado por um realismo brutal, e temos o retrato de militares de tal forma obcecados pelo seu trabalho que este se transforma numa verdadeira droga. Como mais de uma vez é referido ao longo do filme, a adrenalina é a mais potente das drogas (recorde-se que esse era já o tema de um dos filmes mais ‘duros’, de Kathryn Bigelow: “Ruptura Explosiva”, em que no confronto em queda livre de Patrick Swayze e Keanu Reeves, o primeiro grita: “Adrenalina pura!”), capaz de viciar quem joga com a morte em cada segundo."
"E é esse o trabalho, que se transforma em jogo e em vício para William James (Jeremy Renner), sargento do Exército especializado no desarme de bombas armadilhadas, que o inimigo deixa espalhadas pelo campo e em veículos. A sequência de abertura é fabulosa na forma como o suspense se desenvolve acompanhando a acção de outro especialista (o sargento Matt, interpretado por Guy Pearce, num pequeno mas notável trabalho, tal como é a aparição de outro ‘convidado’, Ralph Fiennes, que aparece mais a meio, na figura de um comando), primeiro com o uso de um carro robô que ‘estuda’ a armadilha, e depois com o trabalho de Matt desarmando o engenho. Contudo, o inimigo usa outras armadilhas dentro da armadilha e Matt será vítima da explosão. Entra então em cena William, e desde o começo é-nos dada a imagem de alguém que está praticamente obcecado pelo seu trabalho e que despreza os habituais meios de segurança. William é considerado um verdadeiro génio no seu trabalho (mais de 800 bombas desarmadas), e prova que o é, embora todo o seu comportamento demonstre que o desprezo que mostra pela morte seja maior do que a segurança de saber o que faz, e antes uma verdadeira obsessão para chegar ao ponto limite, obsessão que o devora a ponto de o fazer abandonar a família. Alguns planos perto do fim (os únicos fora do campo de batalha) mostram Will de regresso a casa e à família, incapaz de se adaptar e alistando-se de novo."
"Para além de um argumento escrito por Mark Boal, de uma força pouco comum, “Estado de Guerra” destaca-se ainda pela realização soberba de Kathryn Bigelow, de um ritmo quase esquizofrénico, como que contaminado pelas próprias personagens, e que chega a pôr o espectador quase em estado de choque, o que é reforçado pelo realismo de algumas sequências. Duas, em particular, se destacam pela sua dureza, para além da já referida do começo: o cerco a que Will e outros soldados são objecto no deserto, por atiradores de longo alcance e o corpo bomba."
"Tal como o cinema de Kathryn Bigelow, “Estado de Guerra” mais do que um filme é adrenalina pura!" Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 19/09/2009