Eu penso que há um ponto de partida filosófico que para mim é muito importante e que é a questão do pessimismo antropológico. Se nós temos um ponto de partida sobre a natureza humana que é rousseauniano, ou seja, uma ideia optimista de que o homem é bom por natureza e que são as instituições, a família, o estado, a religião, etc. que dão cabo dele, então é evidente que nós temos de ser de esquerda. Se, por outro lado, nós temos uma concepção, que pode ser baseada no cristianismo ou não, de que a natureza humana é imperfeita e que, portanto, precisa de boas instituições para que a vida social em paz seja possível, então seremos de direita. (...) Digamos que o meu ponto de partida é antropologicamente pessimista, até porque sempre tive a noção de que a ordem, a civilização e todas essas coisas que são fundamentais à existência do homem em sociedade são, na verdade, muito frágeis. A qualquer momento elas podem ser postas em causa, ou até desaparecer. A esquerda optimista acha que essas coisas são adquiridas e, portanto, naturais…