Se alguém esperava ficar "esclarecido" ou informado com os dez "debates" de televisão entre o primeiro-ministro e os chefes dos partidos da oposição (os partidos parlamentares, como é evidente) vai ficar desiludido. O "formato", em parte copiado do regimento da Assembleia da República, foi feito para impedir qualquer espécie de verdadeira argumentação - uma argumentação com inteligência, com interesse e com nexo. Em cada sessão há seis temas (que a TVI, a SIC e a RTP em princípio escolhem). Cada um dos participantes tem direito a falar livremente dois minutos e meio sobre cada tema, a seguir, um minuto para "responder" ao "adversário". Ao todo, a conversa, incluindo a intervenção da moderadora (ou moderador) não deve exceder 45 minutos. Como se explica em menos de quatros minutos, contando com o "repique", a situação económica portuguesa (e a maneira de limitar a crise) ou a reforma da segurança social excede a imaginação humana. O que, na prática, sucede é que se trocam vulgaridades de propaganda e alguns comentários supostamente insidiosos para embaraçar o outro lado, que só percebem alguns fanáticos da política e que a esmagadora maioria do eleitorado ignora ou, do fundo do coração, despreza. Sócrates, por exemplo, não parou de criticar o governo Barroso, a que Paulo Portas pertenceu (como ministro da Defesa). A irrelevância disto é absoluta. Mas Sócrates não se importa. Como não se importa de repetir a longa lista das medidas maravilhosas que tomou e que nos trouxeram à maravilhosa situação em que vivemos. Desde que ninguém o "aperte" e ele "aperte" o próximo, ganhou o dia. Vasco Pulido valente, Público de 04/09/2009