Título original: This Is It
De: Kenny Ortega
Género: Documentário, Musical
Classificação: M/12
EUA, 2009, Cores, 112 min.
"ASSISTIR À EXIBIÇÃO de “Michael Jackson’s This Is It”, provoca uma certa sensação de desconforto, porque a homenagem se mistura à frustração. Acompanhando toda a exposição de um processo que deixa antever o que poderia ter sido, o espectador sente, no resultado, uma marca, ou sinal, que tem a ver com uma espécie de ‘maldição’ que, desde o começo dos tempos, marca a cultura, e que na história fica como que a manifestação do ‘ciúme’ dos deuses que nos ‘roubam’ cedo aqueles que se tornaram seus rivais. Podíamos ir atrás, até à tragédia grega para falarmos dos que morrem cedo por intervenção desses deuses, mas podemos ficar-nos pelo século passado. Esses que morrem cedo deixam nos seus admiradores uma sensação de vazio e de frustração ao saberem de obras que ficaram incompletas, ou o que poderiam ter feito. É claro que tal como os que o choram outros há que tentam tirar o máximo proveito do que ficou, da obra ou da imagem."
"“Michael Jackson’s This Is It” pode ser o exemplo acabado e que vai mais longe na sua forma, daquilo que atrás referimos. É, por um lado, uma definitiva manifestação de amor e de curiosidade, para o admirador tentar perceber o que ficou incompleto e imaginar o que poderia ser se tivesse chegado ao fim. Mas é também, inevitavelmente, uma exploração da imagem e da memória que deixou e da admiração quase histérica dos fãs. Não nos podemos queixar disto, porque faz parte do mundo real em que vivemos e em que a sociedade de consumo explora todas marcas e todas as ‘máscaras’ dessa memória. Porém “Michael Jackson’s This Is It” é mais um objecto de homenagem do que de exploração. O filme procura mostrar o que o concerto real poderia ter sido, mas mantém um certo respeito pela personagem. De tal forma que vemos a ‘máscara’ que o habitou como uma espécie de defesa. Kenny Ortega, o realizador, talvez seja demasiado respeitoso pela imagem, pois apresenta-o como um trabalhador incansável e se não ousa dar uma outra imagem do artista é porque o objectivo do filme é o concerto que a morte frustrou. O que nos deixa ver, como balanço de centenas de horas que gravaram os ensaios que preparavam os inícios da grande digressão, é uma série de momentos de canções e coreografias desenvolvidas ‘em progresso’. "
"Entre estes momentos caberá, especialmente a um cinéfilo, destacar dois deles: a encenação espectacular da canção ‘Smooth Criminal’ acompanhada com uma montagem do cinema ‘negro’ clássico (com Rita Hayworth em “Gilda” e Humphrey Bogart em vários filmes) onde Michael Jackson se ‘introduz’. E também o breve segmento da ‘revisão’ que seria em 3D do clássico “Thriller” de Jackson." Manuel Cintra Ferreira, Expresso de 07/11/2009