Título original: Surrogates
De: Jonathan Mostow
Com: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike
Género: Acção, Ficção Científica, Thriller
Classificação: M/12
Estónia, 2009, Cores, 104 min.
"NUM MUNDO em que há salas de chat onde é possível namorar sob uma identidade forjada, em que há sites onde se consegue simular uma outra existência através de avatares, onde há redes sociais em que se criam laços muitas vezes em nome de um desejo que não de uma realidade, como não acreditar na hipótese que “Os Substitutos” coloca? Seria assim: num próximo futuro as pessoas deixariam de sair à rua. Ficariam em casa, reclinadas diante de um ecrã e ligadas ciberneticamente a modelos que os simulariam, bonecos robóticos que os substituiriam na vida real e através dos quais todos os relacionamentos se processariam, de carácter profissional, social ou afectivo."
"A realidade dos espaços públicos das cidades passaria, deste modo, a ser ocupada apenas por esses avatares que um complexo sistema neuroeléctrico ligaria aos seus donos, de modo a que as sensações colhidas lá fora pudessem ser experimentadas pelos humanos. Claro: seria uma poderosíssima empresa planetária, uma microsoft da mecatrónica, quem fabricaria esses seres que poderiam ter um fácies similar aos dos possuidores (evidentemente melhorado, o envelhecimento seria uma das categorias a desaparecer radicalmente do espaço público) ou ter um rosto indistinto para utilização bélica — e essa empresa e os seus engenheiros seriam, então, qualquer coisa próxima do poder de um Estado absoluto, quiçá mesmo de Deus. E, claro ainda: haveria humanos que recusariam de forma radical a utilização, a presença, o simples convívio com os avatares. Esses, párias a viver em reservas, longe da evolução da espécie humana e dos seus benefícios, abrigariam um líder com carisma religioso e uma fé na reconquista da supremacia."
"Um admirável mundo novo está criado, com a proximidade ao nosso para podermos extrair alguma reflexão. Nesse mundo acontece um mistério — alguém desenvolve uma arma que, ao destruir um avatar, mata também o seu dono — que Greer/Bruce Willis, agente do FBI, tem de destrinçar. Mas, enquanto avança no encalço do criminoso, debate-se com um problema íntimo. A mulher, encerrada num quarto desde a morte do filho de ambos, tem, enquanto avatar, um comportamento dissoluto, praticamente proibindo a Greer qualquer manifestação de afecto e interditando o contacto real entre ambos."
"“Os Substitutos” é excelente a instalar uma realidade ficcional, a trabalhar detalhes para a tornar maleável e a estabelecer o ‘contrato’ com o espectador de modo a que ele aceite a necessária suspensão da realidade. Tecnicamente é prodigioso (o trabalho sobre os rostos dos actores quando avatares, dando-lhes uma expressão quase humana, mas ficando um micrómetro aquém, é uma utilização perfeita dos recursos digitais). Depois, todavia, o filme afunila o extraordinário manancial à sua disposição numa trama onde as cenas de acção surgem quase por imposição externa e o núcleo policiário se revela bem curto quando se desvenda."
"Pessoalmente, gostaria muito mais de saber como se reconstrói uma humanidade depois de aquilo (é o que o fim do filme deixa em suspenso e quase dá por adquirido), que ver um avatar sem um braço aos saltos sobre ruínas e carcaças de automóveis mortos. Mas eu não tenho 13 anos e, já se sabe: nenhuma filosofia de vida suplanta uma boa explosão, pelo menos nos códigos que regem a maior parte dos filmes. A destes dias." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 31/10/2009