Actividade Paranormal
Título original: Paranormal Activity
De: Oren Peli
Argumento: Oren Peli
Com: Katie Featherston, Micah Sloat
Género: Terror
Classificação: M/12
EUA, 2007, Cores, 86 min.
Título original: Paranormal Activity
De: Oren Peli
Argumento: Oren Peli
Com: Katie Featherston, Micah Sloat
Género: Terror
Classificação: M/12
EUA, 2007, Cores, 86 min.
"NESTA COISA de cinema, diabolismos e filmes de terror, há que ter cuidado. Não se pode esquecer o que está lá para trás. Os espectros fulminantes de Murnau. Aqueles que, como Tourneur, juraram a pés juntos que o Mal existia na Terra (e nos filmes). Os que trabalharam o cinema de terror como uma novela perfeita — e Friedkin não fez outra coisa em “O Exorcista”. Também os que viram no género o terreno ideal para introduzir revoluções profundas, como o provou Kubrick em “The Shining”, o primeiro filme em que a steadicam foi usada por um cineasta maior. À luz de tudo isto, com a chegada do videodigital e de orçamentos de pele e osso, eis a grande questão: o que dizer de um filme como “Actividade Paranormal”, em que o argumentista não sabe escrever, o câmara não sabe filmar e os actores, todos amadores, não sabem interpretar? Mais: qual é a consequência de um tempo em que as imagens e os sons, manipulados e cada vez mais anónimos, se ‘democratizam’ ao alcance de uma câmara e de um micro que até podem ser os de um telemóvel? Era fácil passar à frente de “Actividade Paranormal”. O problema é que este filme, disso estamos seguros, é um produto evidente do seu tempo. E os discursos que o condenam são infinitamente menos produtivos do que os que saem a terreiro em sua defesa."
"Porque se calhar há (e sempre houve...) um gesto instintivo de cinema que não se joga no campo da mestria, do ensaio, da concentração, muito menos no da repetição de fórmulas feitas, como 99% do cinema de terror contemporâneo. Um cinema que chega aos seus fins por outros meios — e, lá por ser ‘menos sério’, não é menos luciferino. Há dois vectores claros em “Actividade Paranormal”: de dia, Micah tem a câmara na mão; à noite, a câmara está fixa e o diabrete ataca. Os primeiros parecem adereços de preparação para os segundos, e esta estrutura é banal e repetitiva. Mas até aqui há subtilezas: 1) há um analista ‘formado em assombrações’, personagem pateta, que visita a casa no início do filme e que volta a surgir na ficção, uma hora depois, só para dizer que não pode ficar naquela casa nem mais um minuto; 2) Micah, depois de folhear livros do Demo e usar tábuas amaldiçoadas, arma-se em ‘Orfeu do YouTube’ e dá-nos a ver, na Net (tinha de ser), aí sim, uma breve sequência de terror puro sobre uma desgraçada, exorcizada algures nos anos 60, provável origem do problema que assola Katie. Não são estes dois momentos de uma eficácia inexplicável?"
"Mas o que mais impressiona é outra coisa: são as ganas daquele ‘perfeito anormal’, Micah, e, por ele, o desejo ardente de que o terror, atraído por uma câmara e por um micro, entre naquela casa. Katie desespera: “Turn it off, please!” Mas Micah não desliga a câmara. E, quanto mais ele chama pela besta, mais ela se aproxima. Isto resume-se a uma coisa: fé absoluta da ficção em si própria. Fé na imagem, no som, naquela espera e nuns truques de magia que Méliès inventou há cem anos. E uma leve esperança de que o cinema possa, de facto, atrair a maldição. É que Micah acredita no Demo. Acredita nele com todas as suas forças. Está obcecado por ele. E o Demo, que é bem educado, não costuma recusar certos convites." Francisco Ferreira, 05/12/2009